"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

quarta-feira, 31 de março de 2010

O dia em que tudo deu certo...

Essa história começa logo quando chegamos em Caracas, mais especificamente no oitavo andar da Universidade Bolivariana da Venezuela.

Estavamos usando os computadores que ficam nos corredores de um projeto de democratização da informática que se chama infopunto, no oitavo andar da universidade quando Daniel olhou pela janela e viu um bonito estádio de futebol. Derrepende as ideia começaram a se chocar em sua cabeça e as palavras Caracas, futebol, estádio e flamengo o fizeram concluir: Nossa! o Caracas Futebol Clube está na chave do Flamengo na Libertadores!

Resolveu então ver quando o Falmengo jogaria com o Caracas ali e descobriu que seria dia 10 de março. Que sorte!, pensou ele, torcedor fanático.

Começou ai então nossa jornada para descobrir como conseguir assistir o jogo.
Alguns dias foram se passando e sempre perguntavamos como deveriamos fazer para comprar ingresso. Muitos nos diziam que era tranquilo comprar porque na Venezuela as pessoas nao ligavam tanto para futebol, mas só para beisebol. Já outros nos disseram que não se consegue comprar ingressos antecipados para jogos do caracas na libertadores, pois os cambistas compram todos com antecedência.

Confusos em relação as informações, fomos deixando o tempo passar.

Um dia antes do jogo, terça-feira, resolvemos então ir pela quarta vez ao estádio perguntar. Lá um segurança nos disse que os ingressos seriam vendidos somente no dia do jogo, quarta, a partir das 9h. Mas nos alertou: "chegem cedo porque faz uma fila enorme!"

No dia seguinte... la fomos nós bem cedo, antes das 8h da manhã para comprar os ingressos.

Chegando no estádio, nada de fila. Pensamos: oba! Vamos ser os primeiros a comprar os ingressos.

Perguntamos então a uns seguranças a que horas começavam mesmo as vendas e eles nos informaram: "nao haverá. Está tudo esgotado".

Ali os olhos do fanático flamenguista, Daniel, encheram-se de lágrimas. Resolvemos então perguntar para um cambista que estava em frente à bilheteria. Lá descobrimos que o ingresso que antes era de 20 bolívares, estava custando 80. É mais ou menos o que se paga em reais em um jogo no Brasil. Mas para o nosso orçamento estava muito caro.

Fomos então ao estacionamento perguntar ao porteiro, que haviamos conhecido fazia um tempo, se havia outra possibilidade. Lá, descobrimos um loja em um shopping em que talvez estivessem vendendo ingressos ainda.

Fomos então ao shopping. Lá encontramos em uma cafeteria um garoto com a camisa do Flamengo. Daniel imediatamente foi falar com ele e perguntar se iria ver o jogo. Era uma família de cariocas e estavam na Venezuela só para rever um conhecido e assistir ao jogo. Depois de uma conversa rápida fomos a loja ver se haviam ingressos. Não havia mais! Já cabisbaixos, estavamos indo embora do shopping quando encontramos os cariocas e o Venezuelano de novo. Dissemos que estavamos com dificuldades financeiras para ver o jogo e derrepende um deles nos perguntou até quanto estavamos dispostos a pagar para ver o jogo e respondemos 40 bolívares, pois estamos com restrição financeira. Foi então, em um momento de "solidariedade futebolistica", que o venezuelano sacou 50 bolívares, e o brasileiro mais 40. Nos deram e disseram: "Vocês já estão aqui. Não deixem de ver o jogo!".

Felizes, voltamos a Universidade Central para participar de um ato, em que os estudantes queriam entrar no conselho universitário para pedir democracia na universidade, uma vez que estavam sendo perseguidos pela reitoria por questionar a construção de portões nas entradas da universidade para pedestres, alegando que a universidade é um patrimônio público e deve no mínimo, já que o processo de ingresso é excludente, ter livre acesso à comunidade.


Lá encontramos Breno, um paraense do PSOL que haviamos conhecido anteriormente. Ele então disse que conhecia um estudante que trabalhava no estádio e que poderia nos colocar para dentro no jogo sem pagar nada.

Reunidos as 20h fomos então ao estádio e a partir dai foi só alegria, apesar de alguns banhos de cerveja em comemoração dos 3 gols do Flamengo, na vitoria de 3x1, em meio à torcida caraquenha.

FIM

Ha, o que fizemos com o dinheiro que nos deram? uma parte virou cerveja e a outra guardamos para alguma emergência...

Comuna Socialista - Caracas

No dia 09/03 fomos visitar uma Comuna Socialista no bairro "23 de Enero", em Caracas, convidados por uma amigo que fizemos na Universidade Central, que trabalha no Ministério de Educação e que estuda Trabalho Social, Jesus Mujica.



A Comuna funciona no local aonde existia uma fábrica de chocolates, que após falir, ficou abandonada. A comunida então ocupou o espaço e pediu para o governo que ele fosse destinado a sede da Comuna.




Dentro desse espaço, organizam-se na comuna 37 cooperativas (têxtil, carpintaria, oficina mecânica, salão de beleza, alimentos, sorvetes, artística, de serviços, etc.) e 27 conselhos comunais. Os Conselhos Comunais são organizações de bairro em que a população formula, executa e controla políticas públicas, de forma a dissolver o poder municipal e transferir o poder ao povo. Uma porcentagem dos ganhos das cooperativas é destinada para a gestão dos conselhos comunais e para atividades no bairro.



A função da Comuna vai, portanto, além da organização produtiva. É nela que se faz a formação e a articulação política da comunidade.

É na Comuna, por exemplo, que se planeja, se organiza e se realiza as missões do Goveno da República Bolivariana da Venezuela. Dentro dessas missões essas são algumas:

- Missão José Gregorio Hernández: assistência médica e social para portadores de necessidades especiais.
- Missão Che Guevara: cursos de formação e capacitação profissional.
- Missão Ribas: alfabetização de adultos e preparação para o ensino superior.
- Missão Robinson I: programa de alfabetização.
- Missão Robinson II: programa de escolarização primária e secundária.
- Missão Sucre: criação de universidades, aumento de vagas e democratização do acesso.
- Missão Bairro Adentro I: construção de postos de saúde dentro dos bairros pobres.



- Missao Bairro Adentro II: construção de Centros de Diagnosticos Integral, centros médicos.

As Missões Robinson I e II foram responsáveis pela erradicação do analfabetismo na Venezuela, reconhecido pela UNESCO. Para quem tiver interesse em conhecer o sucesso e as transformações que as missões tem alcançado, entre nos links acima.

Na Comuna conhecemos alguns músicos que fazem parte da cooperativa de artistas. Organizados em muitos, uma de suas conquistas foi conseguir permissão do metrô para tocar dentro dos trêns e receber "couvert".



Na volta, tomamos chicha venezuelana, o famoso arroz doce, e "papelón", uma espécie de refresco de rapadura
.

domingo, 28 de março de 2010

O amadurecimento da mesma ideia

E assim amadurece o grito por liberdade do povo boliviano:

Forças Armadas bolivianas adotam o "Pátria ou Morte"

Outra mudança notada nas Forças Armadas foi a presença da wihpala, bandeira dos povos indígenas, sendo carregada ao lado da bandeira Nacional
25/03/2010
Vinicius Mansur,
De La Paz, na Bolívia,
Pela primeira vez as Forças Armadas da Bolívia pronunciaram o grito de guerra “pátria ou morte, venceremos” oficialmente. O acontecimento se deu nesta terça-feira (23), durante o desfile cívico-militar em comemoração ao Dia do Mar.

O pedido de incorporação desta palavra de ordem partiu do presidente Evo Morales, que tradicionalmente enuncia a expressão ao final de seus discursos.

Os opositores de Morales criticaram esta atitude, afirmando que tais palavras são influência do ex-presidente cubano, Fidel Castro, na Bolívia.

De acordo com Morales, os dizeres “pátria ou morte, venceremos” já estão presentes no hino nacional boliviano que afirma “morrer antes que escravos viver”.

Outra mudança notada nas Forças Armadas no Dia do Mar foi a presença da wihpala, bandeira dos povos indígenas, sendo carregada pelos militares ao lado da tradicional bandeira boliviana.

Os bolivianos comemoram o Dia do Mar em todo 23 de março para lembrar a perda de sua saída ao oceano para o Chile, durante a Guerra do Pacífico.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br

quinta-feira, 25 de março de 2010

08/03/2010 - Dia Internacional da Mulher

Questao 21: Qual será o efeito da ordem comunista sobre a família?

Resposta: A relação entre os dois sexos será uma relação puramente social, afetando
somente as partes interessadas, e a qual a sociedade não haverá de intervir. Isso será possível porque se abolirá a propriedade privada e os filhos serão educados pela sociedade, de tal forma que ficarão destruídos os dois pilares que constituem as bases fundamentais do matrimônio: a dependência da mulher em relação ao homem e a dos filhos em relação aos pais em regime de propriedade privada.
Friedrich Engels, Princípios do Comunismo, 1847.



Ao meu entender, para Engels a extinção da propriedade privada seria elemento fundamental para extinguir também a exploração entre os sexos. Porém, as mulheres tem mostrado que não é necessario esperar chegar a ordem comunista para começar a luta pelos seus direitos.

Grande exemplo disso são o dia 8 de março, em que ocorrem mobilizações e manifestações por todo o mundo (como a 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheresa Marcha) e algumas conquistas legais conseguidas pelas mulheres.
Link
Cuba tem sido um grande exemplo de que é necessário fazer uma revolução dentro da própria Revolução Cubana para se acabar com essa exploração. É inegável que os valores de igualdade e justica social em Cuba diminuem a exploração entre os sexos. Porém, não a extingue.

A Federação de Mulheres Cubanas tem percebido que ao longo da Revolução Cubana, o fim da propriedade privada não implica necessariamente em um avanço consequente do fim da opressão dos homens em relação às mulheres. E através de muita discussão, formação e reivindicação, as mulheres cubanas têm conseguido avanços que caminham para o fim dessa propriedade privada. Cresce o número de mulheres em cargos de importância e representatividade política, a divisão do trabalho diminui e consegue-se avanços jurídicos e sociais, como a legalização do aborto com todo acompanhamento medico em Cuba gratuito, que possibilita que a mulher decida sobre o seu próprio corpo, e como a percepção, tanto do homem como da mulher, de que essa opressão existe e precisa acabar.

A Venezuela é outro grande exemplo. Ao mesmo tempo em que os primeiros passos em direção ao fim da propriedade privada dos meios de produção estão sendo dados, o machismo e a opressão não parecem estar diminuindo no mesmo ritmo. Mesmo com um número crescente de mulheres exercendo cargos políticos e economicos de significativa importância, como a presidenta da Assembléia Nacional da Venezuela Cilia Flores, a discussão sobre a legalização do aborto parece estar longe (enquanto na Argentina acabam de legalizá-lo); a exploração do corpo da mulher em propagandas ou programas de televisão, casos de agressão, como um atual de um deputado que agrediu uma repórter, e a divisão sexual do trabalho ainda se perpetuam, .

A opressão não se faz somente por baixos salários e pela apropriação do trabalho alheio. Não esqueçamos que a luta contra a injustica e pela igualdade social deve expandir-se para todos as esferas de seu alcance.

Marchemos junt@s!



Fotos do ato no Paleon em Caracas-Venezuela no dia 08/03/2010, Dia Internacional da Mulher:



terça-feira, 23 de março de 2010

Encontro dos Movimentos Sociais de Caracas - 06/03/2010

No dia 05/03 fomos a uma apresentação de dança que mesclava dança africana e contemporânea no teatro da Universidade Central da Venezuela. Como não somos grandes entendedores de dança nem africana, nem de dança contemporânea, não temos muito mais o que dizer de que foi muito bonito e emocionante da parte em que percebemos que representava a libertação dos escravos.

No dia seguinte, sábado, fomos ao Encontro do Conselho de Movimentos Sociais de Caracas na Universidade Bolibariana. A idéia desse encontro foi fazer discussões sobre as reivindicações dos movimentos para serem levados ao encontro do conselho nacional e finalmente ser entregue um documento ao governo.


Estavam presentes movimentos ligados aos trabalhadores petroleiros, cooperativas de vários setores, trabalhadores de empresa de propriedade social, movimento feminista, movimento estudantil, movimentos ambientalistas, movimentos de outros paises(como o MST), etc.

As mesas de debate foram divididas em: apoio internacional a Venezuela, juventude, economia e produção socialista, gênero e meio ambiente. Acabamos nos dividindo e depois socializando os debates para ter acesso a uma maior parte da discussão. Temos adotado essa tática sempre que podemos. Daniel foi para a mesa de gênero e depois para a de juventude enquanto Theo ficou em economia e produção socialista.

As discussões foram muito boas. Na mesa de economia e produção socialista, onde estavam concentrados basicamente as cooperativas e trabalhadores de empresas de propriedade social, a discussão girou em torno de o que deve ser feito para aumentar a participação dos trabalhadores na gestão das empresas públicas, uma vez que a crítica é de que, apesar das nacionalizações, a estrutura das empresas se mantiveram; de como deve ser ampliada a participação da comunidade nas cooperativas e nas unidades produtivas em que elas estão inseridas; e sobre o que é socialismo. Sobre este último tema, um senhor fez uma fala intensa, afirmando que todos deveriam tomar cuidado com toda essa discussão sobre "Socialismo do século XXI", em que muitas coisas podem ser distorcidas. Para ele, Socialismo só existe um e é o fim da propriedade privada dos meios de produção. Isso porque boa parte da direita tem se apropriado da palavra, destorcendo-a, chegando ao absurdo de dizer que são "empresários socialistas".

Bom, antes falem essa besteira em que podemos reparar a contradição do que dizem do que dizerem que são "Socialistas empresários" e nos enganarem de fato.

No final do dia, convidados por Yessica e Mariana, estudantes de Trabalho Social da UCV, fomos ao bairro La Vega, aonde estava tendo um encontro de Hip Hop, como atividade da semana contra o Apartheid na Palestina.

Final de fevereiro, começo de março

No último dia de fevereiro fomos convidados a ir à praia com alguns estudantes da Universidade Bolivariana, de um coletivo chamado Juventude Rebelde, e com alguns estudantes secundaristas, militantes do PSUV em suas comunidades. Foi um dia normal de praia: areia, mar, sol e costas ardendo, porque esquecemos o protetor, apesar dos avisos da Roseli (mãe do Daniel).

Lá conversamos com os estudantes secundaristas e nos disseram os trabalhos que ralizavam na comunidade e de que apoiavam Chávez, mesmo que seus país não gostassem dele. Ocorreu um episídio, aparentemente simples, mas que para mim foi muito marcante. Em uma conversa com uma menina de 15 anos, estavamos falando de escravidão e ela nos disse que a Venezuela havia sido o último país na América Latina a acabar com ela. Eu, esperto que sou, sabia que a última abolição havia sido decretada no Brasil e não na Venezuela. Perguntei então à ela quando havia sido a abolição na Venezuela, já com a resposta na ponta da língua de que a do Brasil teria sido depois. Foi então que ela disse: "aqui foi em 1989" (se referindo ao Caracaço). A única atitude que me coube então foi ficar quieto.

No dia primeiro de março chegaram à Universidade Bolivariana um grupo de cerca de 20 baianos, entre estudantes e motoristas do ônibus que os transportava. Os estudantes da Universidade Federal da Bahia haviam se organizado e planejado um projeto de uma viagem de 2 meses pelos países da América do Sul, saindo pelo Paraguai até a Venezuela, com o objetivo de conhecer as diversas culturas e trocar experiências com os povos da nossa América. Fica ai uma boa dica pros estudantes de outras universidade.

Tivemos pouco tempo para conversar e caminhar por Caracas com eles, pois eles ficaram somente mais 3 dias em Caracas e voltaram de avião para a Bahia, uma vez que as aulas da universidade iniciariam. No tempo em que ficamos com eles, participamos, com um relato da idéia da nossa viagem, de dois documentários que estavam sendo filmados ao longo da viagem.

Nos dias seguintes fomos à Universidade Central em uma atividade contra o Apartheid na Palestina, em que foi exibido um documentário sobre a destruição causada pelas bombas do exército israelense, e a uma maniestação que passou por algumas faculdades dentro da universidade, com palavras de ordem e colocando cartazes contra a expulsão de alguns estudantes e aos portões que a reitora pretende colocar nas entradas da universidade.



Alguns estudantes da Universidade Central estão sendo julgados e correndo o risco de serem expulsos da universidade por terem participado de uma manifestação em que arrancaram os portões colocados pela reitoria nas entradas da universidade, medida que pretende controlar o acesso à universidade, um espaço que teoricamente é de toda a comunidade e em que existe um hospital público.

A Reitora, com uma sequência de medidas autoritárias, persegue os estudantes por serem chavistas e por isso tem respaldo de grande parte do corpo docente e dicente, na sua maioria esquálidos (nome dado aos contra-revolucionários), principalmente na Faculdade de Odontologia, faculdade a qual a Reitora é professora e aonde está localizado o centro da organização esquálida, onde fomos vaiados e chingados durante a manifestação, enquanto gritávamos: "¡La UCV es del pueblo, no de la burguesia!".

No dia seguinte, 04/03, participamos de uma atividade sobre o Caracaço, em que passaram um documentário sobre o período precedente ao Caracaço, seguido de relatos de pessoas que le lembravam daquela época e de um debate sobre suas causas e consequências. Nesse mesmo dia, conhecemos um jovem no refeitório. Ele sentou-se ao nosso lado e escutando falarmos um pouco rápido nos perguntou se éramos árabes (acho que por causa do nariz do Daniel, na verdade). Logo começamos a conversar, já que ele também gostava muito de futebol. Em meio a conversa ele nos disse que seu pai estava preso. Disse que seu pai trabalhava em uma empresa grande que fazia câmbio e comprava ouro e que foi nacionalizada porque foi descoberto que havia corrupção. Com as investigações, seu pai, os donos e alguns outros funcionários foram presos. O jovem acredita que seu pai é inocente e logo será solto, uma vez que não estava envolvido com todo o esquema. Mesmo considerando que o governo falhou ao prender seu pai, ele defendia firmemente a nacionalização da empresa e o governo dizendo que é um governo revolucionário, que estão ocorrendo muitas transformações sociais e que graças a isso ele e grande parte da população pobre estão podendo estudar em uma universidade pública como a UBV. Ao invéz de culpar cegamente o governo, o que não é muito difícil com todo o massacre diário da grande mídia venezuelana e mundial, por conta do que ele acredita ter sido uma falha, ele sobrepôs o processo revolucionário e todas as transformações sociais que vêm ocorrendo na Venezuela, ou seja, aspectos coletivos, a um assunto estritamente individual. Está ai um grande exemplo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Cuba - Economia e Política

Tínhamos escritos alguns rascunhos sobre o que haviamos conhecido de Cuba para postar no blog, mas que com o passar do tempo e a impossibilidade de postar, estavamos deixando de lado. Porém, após ler o texto recente do blog do Emir Sader - Os fariseus e a dignidade, em que ele questiona a distorção e a falta de divulgação dos avanços da Revolução Cubana pelos grandes meios de comunicação, resolvemos escrever uma série de descrições e reflexões sobre Cuba e a nossa experiência lá, as quais dissolveremos em alguns temas como economia, educação, gênero, comunicação e liberdade de expressão, eleições e democracia, etc. e que serão publicadas no blog aos poucos, devido ao pouco tempo que pretendemos destinar à internet ao longo da viagem.


Segue então uma pequena descrição do que entendemos da economia cubana hoje:

Como se sabe, em Cuba a economia é planificada. Mais do que isso, a produção é para o bem-estar da população e não para a acumulação de riqueza, seja ela abstrata ou não. Mesmo assim, o grande problema enfrentado hoje pela sociedade cubana é um aspecto econômico. Na verdade é um problema originalmente bélico, mas que implica em problemas econômicos: o bloqueio econômico dos Estados Unidos da Améica.

O bloqueio, política adotada em situações de guerra, consiste no boicote da comercialização internacional de um país de forma a miná-lo pelo desabastecimento, até se chegar a fome e a mortes, de fomra a obrigar o governo a se render.

Este bloqueio, porém, possui uma peculiaridade. Ele não é uma simples lei que se pode acabar com ela a qualquer momento. Esse bloqueio encontra-se fragmentado em diversas leis, como por exemplo: navios que desembarcam em Cuba não podem, durante 6 meses, atracar em portos dos EUA (principal responsável por transações internacionais em todo o mundo); e produtos compostos por certa porcentagem de peças cubanas (Cuba é uma grande produtora de níquel) não podem ser comercializados nos EUA.

Esse bloqueio que, portanto, tanto impede que Cuba comercialize com alguns países, como encarece muitas de suas importações e exportações, é, para os cubanos, o grande causador da escassez material que se tem hoje no país.

É, portanto, graças à planificação econômica que a sociedade cubana possui pleno emprego e consegue sobreviver, uma vez que os recursos de toda a produção cubana são destinados prioritariamente às necessidades básicas, como alimentação, saúde e educação. Ou seja, ao mesmo tempo em que o bloqueio econômico torna cara a importação de alimentos e aparelhos médicos, o governo cubano desloca recursos dos setores mais rentáveis, como exportação de níquel e suco de laranja, para esses setores afetados pelo bloqueio.

A economia cubana enfrenta hoje outro problema, causa também do bloqueio, que é o fato de possuir 2 moedas de circulação nacional. Um problema que serviu para sanar um outro problema ainda maior: a escassez de dólar e euro, principais moedas de transações internacionais, após o período especial.

A dupla moeda, ao longo do tempo, vem diferenciando o nível de renda dos cubanos, principalmente pelas pessoas que trabalham com turismo e de remessas de parentes que veivem no exterior. Por isso, essa não é uma medida definitiva, se não uma medida que foi necessária para sustentar a economia cubana após a queda da União Soviética e a intensificação do bloqueio econômico, a qual o governo pretende se livrar rapidamente.

A solução mais paupável, apesar de ainda estar londe de se consolidar, é o crescimento da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), como forma de integrar os povos latinoamericanos e se tornar independente, econômica e politicamente da Europa e dos EUA. Através da ALBA, Cuba tem firmado importantes convênios e acordos com a Venezuela, Bolívia, Equador e países da Comunidade Caribenha.


Cuba estaria firmando hoje importantes acordos também com Honduras, caso não tivesse ocorrido um golpe militar em 2009 que derrubou o governo Zelaia, que "coincidentemente" acabava de incorpora-se à ALBA. Golpe ao qual o senado dos EUA já aceitou publicamente e pede, com visitas de sua Secretária de Estado Hilary Clinton, para que os "países amigos" reconheçam esse novo e vergonhoso governo "democrático".

terça-feira, 16 de março de 2010

ITCP-Unicamp, a Revolução Cubana e a Revolução Bolivariana

Pode parecer ousado tentar fazer essa relação que propõe o título do texto, mas passados dois meses conhecendo mais de perto a Revolução Cubana e a Revolução Bolivariana e um ano e meio de trabalho na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP/Unicamp (http://www.itcp.unicamp.br/), e vendo a sua aproximação cada vez maior com movimentos sociais, posso dizer que essa relação existe, e mais, que a ITCP-Unicamp segue um caminho “pedagógico-revolucionário”.

È claro que o trabalho de incubação não faria sentido em Cuba, por exemplo. Em Cuba, como todos têm acesso à Universidade o conhecimento científico, acadêmico e popular dialogam constantemente: nas universidades, nas reuniões de CDRs (Comitês de Defesa da Revolução), nas escolas, na Central de Trabalhadoras e Trabalhadores Cuban@s, na União da Juventude Comunista, no Partido Comunista de Cuba, na Federação de Mulheres Cubanas, nas casas, nas cooperativas, etc. Ou seja, o trabalho feito em uma incubação está presente em todos os momentos na vida de um@ Cuban@. Assim, pode-se dizer que a incubação está dissolvida no cotidiano da sociedade cubana e é elementro construtivo da Revolução Cubana.

Conhecendo a Venezuela e a experiência com formação de cooperativas valorizei ainda mais a incubação. Na Venezuela muitas das experiências com cooperativas não deram certo. Isso porque as cooperativas se tornaram o que chamamos de “coopergatos” – empreendimentos capitalistas desfarçados de cooperativas.
Dentre as missões do governo federal, existe uma que se chama “Missão Che Guevara” em que são feitas capacitações para os interesados em trabalhar em determinada área produtiva – o que dentre as missões, me pareceu o que mais se assemelhava ao trabalho de incubação. Porém, me parece que faltaram elementos fundamentais que carregamos no trabalho de incubação nessa missão, como autogestão, identidade, solidariedade, etc. Me pareceu que as cooperativas que se relacionam com a comunidade, aonde se criou uma identidade forte e um processo de envolvimento político se teve muito avanço, como na Comuna Socialista de “23 de Enero” em Caracas, aonde encontram-se organizadas 37 cooperativas (textil, de serviços, de músic@s, oficina mecânica, etc.).

Além do trabalho de incubação, o que também me chamou atenção foi a semelhança com que a sociedade cubana e a ITCP se organizam. Desde sua gestão de participação coletiva, até o seu processo eleitoral e de representatividade. Assim como na organização de hoje da ITCP, em Cuba não existe campanha eleitoral. A população vota os candidatos e, posteriormente, nos candidatos. A forma como se dissolve o poder em organizações em cada quarteirão, se aproxima de uma representatividade integral, como na ITCP, só que de 11 milhões de pessoas.

A Venezuela, em meio a intenças transformações está ainda longe de chegar a esse tipo de participação popular. Porém, acredito que a construção dos Conselhos Comunais, que é uma forma de disolver o poder municipal para cada bairro, é o caminho para a construção do poder popular, assim como as cooperativas populares, as empresas de propriedade social e os movimentos sociais.

Bom, mais do que um texto descritivo sobre Cuba ou Venezuela, escrevi esse texto como forma de transbordar a grandeza que a ITCP e o seu trabalho “pedagógico-revolucionário” ganhou para mim ao conhecer processos de consolidação e construção socialista e do poder popular. A tarefa não é simples, mas tenho certeza que estamos no caminho certo.

Um grande beijo a tod@s,

Theo

O Amadurecimento de Uma Idéia

Assim amadureceu o grito por liberdade do povo venezuelano:

¡Patria o Muerte!
¡Venceremos!
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.
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¡Patria, Socialismo o Muerte!
¡Venceremos!
.
.
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¡Patria Socialista o Muerte!
¡Venceremos!

segunda-feira, 15 de março de 2010

27F - ¡Prohibido Olvidar!

No dia 27 de fevereiro fomos convidados para ir a uma manifestação em memória ao dia 27 de janeiro de 1989, o dia do Caracaço.

Só após ir a essa manifestação e conhecer um pouco a história da Venezuela pudemos perceber a tamanha importância que esse dia e esse fato têm para toda a sociedade venezuelana e latinoamericana. Obviamente, depois de perceber isso, resolvemos dedicar uma postagem para descrever um pouco do porquê, do como e das consequêncas desse dia.

Pode-se dizer que tudo começa no final do século XVI com a chegada dos espanhóis na Venezuela. Para resumir um pouco a história e chegarmos à 1989 pode-se dizer que até essa data a Venezuela foi uma colônia. Antes espanhola, depois estadounidense.

Foi em 1989, após anuncio do governo Carlos Andrés Perez de diversas reformas de cunho liberais, inspiradas no Consenso de Washington, como aumento de tarifas e preços, contenção de salários, privatizações, etc. que tudo começou a mudar.

Dizem que o estopim de tudo aconteceu qunado trabalhadores que viviam em uma "cidade dormitório", ou seja, somente dormiam na cidade e iam trabalhar todos os dias em Caracas, perceberam ao pegar a condução para o seu trabalho que seu salário não era mais suficiente nem mesmo para ir trabalhar. Exemplo máximo da exploração. Se os trabalhadores não tinham sequer dinheiro para transportar-se da sua casa até o seu trabalho, quanto mais para comprar comida.

Foi então, em 27 de fevereiro de 1989 que começou uma onda de saqueamentos de supermercados, mercados, lojas, ou seja, de todo o setor de distribuição de alimentos e de bens de consumo. Aparentemente uma movimentação descontrolada e desesperada da população, mas talvez a população estivesse consciente, organizada e cançada de ser explorada e fornecer petróleo a baixo custo para os EUA.

O governo não tardou então a colocar o exercito nas ruas para conter os saqueamentos e reestabelecer a "ordem".

Começa então um massacre. Milhares de pessoas são assassinadas friamente em nome da defesa da propriedade privada.


Foi então que parte do exército, em meio a toda contradição entre os ensinamentos dados de que deveria defender a população e a sua pátria e ter que matá-la e destruí-la, resolveu pôr-se ao lado da população, entrar em confronto com a outra parte do exército que obedecia as ordens do atual governo de matar a população caso houvesse saques e tomar o poder. É aqui que surge a figura do atual presidente Hugo Chavez Frias, comandante desse exército de oposição.

Acusado de culpado pela tentativa de golpe, Chavez é preso em 1992. Chavez pede então para não haver mais derramamento de sangue, que os conflitos cessem e diz que se responsabiliza pelas consequências.

Os conflitos então cessam, mas a população, traumatizada, já não permitiria mais abusos da classe dominante.

O atual presidente então, Carlos Andrés Perez é derrubado acusado de corrupção em 1993 e assumeRafael Caldera que liberta Chavez em 1994.

Apoiado pela esmagadora maioria da população e considerado um heroi, Chavez ganha as eleições de 1998.

Começa então um processo de transformação que desagrada a elite venezuelana que tenta em 2002 um golpe em Chavez. Porém, já organizada, politizada e apropriadas do que se passava a nível nacional, a população foi as ruas e impediu que a velha elite voltasse ao poder.

Hoje, acredita-se estar vivendo um processo revolucionário na Venezuela e a população, consciente e na defesa desse processo de transformação, grita constantemente: "27 de febrero és prohibido olvidar!" e "no volveran!".

"23 de Enero", Misión Bario Adentro, Movimento Estudantil, CatiaTV, cama e comida.

Apesar da constante incerteza e desconforto por ainda não ter aonde ficar, logo na nossa primeira semana na Venezuela já tivemos diversas atividades e conhecemos bastante gente.

Já no nosso segundo dia fomos a uma atividade do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), com Rosalinda, de distribuição de lâmpadas brancas que são mais econômicas, uma vez que não chove a muito tempo aqui e para se evitar um apagão, estão tendo políticas de economia de energia em todo o país.

No mesmo dia, Rosalinda nos levou para conhecer o Centro Médico Salvador Allende, aonde trabalham 50 médicos cubanos (hoje existem cerca de 30 mil médicos e agentes da saúde cubanos na Venezuela) que é um dos Centros de Diagnósticos Integrais (CDIs), que são hospitais públicos e que fazem parte da "Misión Bario Adentro II", que democratizou o acesso à saúde e que garante hoje que 100% da população venezuela tenha acesso a saúde pública com a mesma qualidade que os hospitais particulares.

No dia seguinte Rosalinda nos levou para conhecer os centros médicos que fazem parte da "Misión Bario Adentro I", que são pequenos consultórios médicos espalhados por toda a periferia para atender a toda a população gratuitamente, no bairro "23 de Enero", aonde existem 55 conjuntos habitacionais e se encontram os principais movimentos sociais organizados de Caracas.



Lá, conhecemos Esteban, um militante e morador de "23 de Enero", que nos contou a importância do bairro para defender o governo na tentativa de golpe de 2002, como a polícia cercou a favela e como eles fizeram para conseguir descer e ir até o Palácio de Miraflores, além de nos levar a diversos pontos aonde se encontravam os consultórios da missão bario adentro.




A noite, Rosalinda e Oscar nos levaram para comer Arepa, um pãozinho de farinha de milho que comem quase todo dia aqui, com um patê de frango com abacate.

No dia seguinte conhecemos Luiz Alvarez, professor da UBV e militante das rádios e TVs comunitárias, que nos convidou para conhecer uma tv comunitária que chama-se CatiaTV.

Nesse mesmo dia fomos finalmente até a Universidade Central da Venezuela, a uns 5 minutos da UBV. Fomos direto à area de humanidades pois sabiamos que lá poderiamos encontrar os estudantes que queriamos conhecer. Lá conhecemos militantes do movimento estudantil de Trabalho Social, Socilogia, Antropologia, Ciência Política, etc. Ficamos na cantina da Escola de Trabajo Social conversando sobre o processo que se passa na Venezuela e um pouco sobre Brasil. Muitos eram críticos ao governo, mas todos apoiavam Chavez e o processo Revolucionário.

Conhecemos a sede do Centro Estudantil da Escuela de Trabajo Social, que havia sofrido um ataque dos anti-chavistas em que houveram tiros (que acertaram coincidentemente os quadros de Che Guevara e Fidel Castro) e um incêndio no prédio aonde estavam os estudantes pró-governo, em setembro do ano passado (isso mesmo.. 11/2009!!).



Na terça-feira fomos então a CatiaTV assistir a um programa de entrevista com Raul Valdez Vigor do Partido Comunista Cubano, que falou sobre a atualidade do Maniefsto Comunista de Engels e Marx para o entendimento da Luta de Classes hoje.



Lá conhecemos um pouco da estrutura de uma emissora feita pela comunidade e começamos a entender a importância desses meios de comunicação populares para a sustentação do processo revolucionário.

Ao voltar para a UBV, Alexander, estudante de Direito da UBV apresentado pelo Luiz Alvares, nos levou para falar com o professor Soto, que finalmente conseguiu um lugar para ficarmos e comida gratis. Ficamos no dormitório com os motoristas dos ônibus da universidade e podiamos com tranquilidade tomar café e almoçar no refeitório da UBV.

A chegada na Venezuela e o nosso primeiro dia - 19/02/2010

Cegamos em Caracas - Venezuela com um contato que Juan Carlos, diretor do acampamento em Cuba, havia nos passado. Ela se chama Rosalinda e é do Movimento de Solidariedade com Cuba da Venezuela. Já tinhamos trocado um e-mail com ela e haviamos pegado o seu telefone.

Depois de muito esperar no aeroporto para saber o que fazer, pegamos um ônibus em direçao ao centro de Caracas. A ideia era ir até uma universidade conhecer algumas pessoas e de lá ligar para Rosalinda para saber se ela poderia nos ajudar.

Já no onibus conversamos com uma menina que se demonstrou disposta a nos ajudar e emprestou o seu celular para falarmos com Rosalinda. Sem sucesso.

Descemos então em um ponto próximo ao metrô. De lá fomos preguntando como chegar à Universidade Bolivariana da Venezuela, pois pensamos que conhecendo estudantes ou alguna organizaçao estudantil, descobriríamos aonde ficar, aonde comer, etc.

Chegando na Universidade Bolivariana fomos em busca de alguma organização estudantil. Depois de perguntarmos para várias pesoas, fomos direcionados ao oitavo andar do predio, aonde existia um orgão que se chama Desarollo Estudantil, que depois fomos descobrir que é a instituição que reune estudantes, professores e funcionarios da universidade para discutir diversos temas e as questões da universidade.

Lá, explicamos à Daiane e Carmem, que trabalham nesse orgão, a nossa situação e condição. De imediato elas começaram a procurar as formas de nos ajudar e ligaram para Rosalinda, dizendo da nossa chegada.

Depois de um dia inteiro de correria para sabermos aonde ficar, conseguimos ficar improvisados em uma sala de aula com colchonetes e tomar banho no vestiario dos trabalhadores da segurança da universidade.



Rosalinda passou no final da tarde para nos conhecer e nos levou para jantar em sua casa. Conversamos sobre Brasil, Venezuela, Chavez, Revoluçao Bolivariana, Cuba etc.

Voltamos entao para a universidade e fomos dormir.

domingo, 7 de março de 2010

Nota sobre o Chile

Estamos longe em distancia e tempo do Chile, mas o terromoto e suas consequencias chegam até nós diariamente, seja por jornais impressos ou televisivos, por conversas, etc.
Vale lembrar que notícias do Haití também são frequentes aqui.
Diferente do que passa no Brasil, sentimos que a solidariedade é maior do que a pena, e que a luta pelo reconstrução dos dois países e pela garantia dos direitos de seus habitantes existe por aqui como uma forma de construção da Grande Nação LatinoAmericana - proposta por Bolivar.

Também por isso achamos necessária uma postagem sobre esse assunto, pois o que dá o maior sentido a nossa viagem é o sonho de uma Grande Pátria Socialista LatinoAmericana.

Encontramos um pedaço de um jornal num gramado da Universidade Central da Venezuela em que tem uma reportagem que aborda um tema pouco discutido e fundamental para explicar o que foi dito acima.

Fizemos uma tradução de algumas partes.

O periódico parece se chamar Revolución a diario
e o nome da matéria é Terremoto, Capitalismo e Socialismo
do dia 02 de março de 2010
é de Rómulo Pardo Silva


A reposta nacional ao desastre tem sido a do sistema capitalista votado por 90% dos eleitores.
É importante tomar o doloroso acontecimento como uma demonstração do que a burguesia pode fazer em casos como esse.

TUDO PRIVATIZADO
No país capitalista é percebida uma falta de autoridade que conduza sem vacilações a admnistração necessária.
É compreensível. Os políticos da burguesia nos cargos do Estado compartem com os empresários as decisões. Esse é seu compromisso.
Paralelamente o Estado carece de meios próprios para agir.
Falta água potável para os afetados, a empresa é privada e não é dotada de meios para produzir energia para bombeá-la. Milhares de pessoas não tem onde comprar alimentos, os supermercados são privados e seus donos decidiram nao abrí-los. As comunicações falharam, as empresas são particulares e não instalaram geradores a petróleo para emeregencias.
Não se pode viajar nem desde, nem para as zonas afetadas, os donos dos onibus não permitem, mesmo que haja estradas com problemas, mas disponíveis.
Necessita-se reparar estradas, o ministro entrega aos concessionários essa missão...
____________________________________________

A ação do Estado chileno, ao colocar o exército nas ruas com o objetivo de aquietar a gente, evitando com violencia a onda de revolta e desespero que toma a população atingida e que se manifesta também em forma de saques - completamente legitimos na nossa visão -, mostra que o que se defende é a propriedade privada e os privilégios de quem a detém e não os interesses da população - mesma ação vista no Haití após o terremoto, onde pessoas que estavam saqueando foram assassinadas por soldados.

Não poderia haver um melhor lugar para se perceber tamanha contradição entre discurso daqueless que defenderam e defendem a iniciativa privada e as maravilhas do livre-mercado e a realidade. É, nesse momento, no Chile, a sede de experimentacoes de politicas economicas e sociais que convencionou-se chamar de neoliberais pelo seu caráter, que a iniciativa privada mostra o quão ineficiente, escrota e injusta ela é, principalmente quando se trata de monopólio dos bens essenciais para a vida, como a água e a comida.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A quarta semana em Cuba e a partida

Depois de uma semana no acampamento em Caimito, decidimos ir para Havana.

O Franco conseguiu um contato em Havana com a Amanda e a Giovana, brigadistas de Campinas, em uma organização que poderia nos receber: a OCLAE - Organizaçao Continental Latino Americana e Caribenha de Estudantes (http://www.oclae.cu).

Depois de muitas tentativas, no ultimo dia antes de partirmos do acampamento, conseguimos fazer o contato com a OCLAE e disseram que poderiam nos receber.

Saindo de Caimito, resolvemos passar antes no pequeno hospital da cidade pois o Daniel estava com sintomas de gripe. Fomos atendidos rapidamente e por lá permanecemos por 2 horas (não na fila, como ficaríamos no Brasil). Isso porque fizeram todos os exames possíveis no seu corpo. Diagnosticada a gripe, saímos com uma receita médica de um antibiótico que deveria ser comprado em um famácia, que é estatal e onde os remédios são subsidiados.

Do hospital pegamos um "camiñon" e partimos para Havana. Chegando lá fomos recebido pelo Renan, estudante amazonense que trabalha na OCLAE representando a UNE-Brasil em Cuba. Fomos muito bem recebidos e demos sorte de ter um quarto vazio com quatro camas por lá. Junto conosco estavam o Franco, que nesse momento já havia desistido de seguir conosco, e o Umesh, um neozeolandes estudante de economia que havia feito a brigada com o grupo A e que se tornou nosso amigo.

Não tínhamos nada muito planejado para esses dias em Havana. Nossa meta era tentar estender o visto, que vencia dia 23/02, para conseguir ficar no congresso que se iniciaria dia primeiro de março. Porém, estender o visto implicava em um custo que o nosso orçamento não comportava. Por isso decidimos seguir para a Venezuela até o dia 23/02.




Em meio a passeios por Havana, fomos à Universidad de La Habana e na XIX Feria Internacional del Libro (a entrada foi presente do Franco, porque consideramos muito caro para o nosso orçamento restrito. VALEU FRANCO!!!). Lá encontramos livros muito baratos com média de preço de R$1.20. O baixo preço nos custou carregar uma pesada mochila e a sua alça que começou a rasgar. Lá conhecemos também um engenheiro cubano e passamos alguns minutos conversando com ele sobre política, Brasil e futebol. Entre todos cubanos, ele foi mais um que relatava com orgulho o fato de não haver violëncia em Cuba, de todos terem acesso a educação superior e à saúde.







Mais tarde descobrimos que infelizmente não havia vôo para Caracas no dia 23. Só havia vaga no voö do dia 19. Por isso tivemos que adiantar nossa saída.

No último (pelo menos dessa viagem) dia em Cuba, dedicamos a nos despedir das uruguaias, com quem nos juntamos para passear por havana, e a uma interessantíssima conversa com Guillermo Arias Beaton, pscicócolo e professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Havana.

Nosso principal interesse era conhecer o modelo de educação cubano, uma vez que ele havia trabalhado no Ministério da Educação na década de 1980 e ajudado na constituição da educação cubana nesse período.

Infelizmente a nossa conversa durou apenas 30 min. Isso porque ele havia perdido um amigo e necessitava ir ao enterro e estava cheio de consultas para fazer. Mesmo assim, perdeu seu almoço para dedicar esses 30 min a nós.

Em meio a nossa breve, mas muito proveitosa conversa, Guillermo nos contou de como não só houve uma preocupação com a mudança do conteúdo nas escolas, mas também da forma, o que se aproximava muito dos estudos de Paulo Freire. Novos valores foram criados na sociedade cubana através da educação, em que a vontade coletiva é soberana em relação a um interesse individual.

O professor nos contou que após o período especial (crise pós queda da União Soviética) a estrutura educacional em Cuba sofreu um forte abalo. Porém, segundo ele, esse problema já foi constatado e medidas de melhor preparação dos professores e de resgate de algumas pessoas com experiência na área educacional já estão encaminhadas.

Chegado o dia 19, nos despedimos do Umesh e fomos rumo ao aeroporto de madrugada com medo de perder o vôo que sairia as 7h15. Após 4 horas entre caminhadas, esperas pelos ônibus e mais uma longa caminhada com a mochila (um tanto quanto pesada) nas costas para achar o aeroporto, subimos cerca das 7h no avião e partimos rumo à Venezuela.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A terceira semana em Cuba

No último dia da brigada, pegamos uma carona no ônibus que levaria as delegações dos países para Havana. Lá fomos encontrar com o prof. Reynaldo Feijó, um professor de inglês, membro do Partido Comunista Cubano e que trabalhava no ICAP, uma vez que o Rafael Moya tinha nos passado seu contato e disse que seria uma boa pessoa para se conversar.

Após ligarmos para ele e combinado um local, nos encontramos e fomos até a escola de idiomas aonde ele dá aulas.

Sem muitas perguntas prontas, mas com muitas dúvidas e inquietações, começamos uma conversa que durou a tarde toda. Ficamos mais ou menos 4 horas falando sobre Cuba, Brasil, América Latina, Cultura, Revolução Cubana, etc.

Feijó já foi algumas vezes ao Brasil e conhecia muito daqui e em um momento em que falavamos de uma possivel revolução no Brasil ele nos disse que para que isso fosse possível, seria necessário DESnovelizar (as novelas brasileiras são muito assistidas em Cuba), DEScarnavalizar e DESfutebolizar o Brasil. Tarefa difícil.

Bom, a conversa foi muito boa e longa. credito que não seja possível escrever todas as dicussões que tivemos ao longo dessas 4 horas. Mas com ceteza as idéias debatidas estarão dissolvidas ao longo das reflexões no blog.

Depois de quase duas semanas participando da brigada, resolvemos ficar em Cuba por mais algum tempo, desde que a nossa restrição financeira (de U$100 por mês no máximo) permitisse (a idéia era ficar até 5 de março para participar de um encontro internacional de economia em Havana).

Após uma palestra sobre o ICAP, ainda na brigada, o Franco, que nesse momento pretendia abandonar a sua rotina para seguir viagem conosco, conversou com a presidente do instituto e ela gentilmente nos convidou a ficar por mais uma semana no acampamento.



Decidimos então permanecer no acampamento e aprofundar o nosso conhecimento sobre as organizações que haviamos conhecido durante a brigada em Caimito mesmo, e se necessário, ir a Havana, que ficava a apenas 40 minutos de ônibus. Durante essa semana a mais no acampamento, conhecemos melhor a ANAP(Associación Nacional de Agricultores Pequeños), a FMC (Feredación de Mujeres Cubanas) e a UJC(Unión de Jovenes Comunistas).

Na ANAP falamos com a presidente da associação em Caimito e ela nos esclareceu sobre o funcionamento da associação e sobre a divisão em dois tipos de cooperativas agrícolas: Cooperativa de Produção Agrícola (CPA), em que há uma maior participação do Estado, e a Cooperativa de Crédito e Seviço Fortacelida (CCSF), em que a produção é mais autônoma.

Foi nessas conversas, na ANAP e nas cooperativas, que começamos a conhecer um pouco da história e da atualidade do setor rural. O governo cubano tem incentivado recentemente a volta da população urbana para o campo a fim de aumentar a produção de alimentos. Descobrimos também que houve um aumento significativo da produção de leite, e que as crianças possuem preferência no consumo dessa produção, independente da renda familiar.

Na Federação de Mulheres Cubanas fomos recepcionados por Virgen, a presidente. Muito simpática, ela nos explicou um pouco do papel da associação para a revolução e para a luta das mulheres pela igualdade de direitos.

Fundada por Vilma Castro no início da revolução, a federação conta hoje com cerca de 4 milhões de mulheres acima de 14 anos (o total da população cubana é de 11 milhões) filiadas. O seu papel principal é lutar pelos direitos das mulheres, que hoje está muito focado na representatividade na assembléia nacional e nos cargos políticos, e na formação política sobre as questões de gênero, tanto para mulheres, como para homens.

Fomos também em Caimito a uma reunião da Federação em que se pretendia rearticular o grupo do quarteirão (todo quarteirão é um núcleo organizado), onde se discutiu quem seriam as responsáveis pelo núcleo e sobre os cursos que estão sendo oferecidos para as mulheres. Acabada a reunião, todas foram a casa de uma mulher que não havia comparecido a reunião para saber o que aconteceu e se ela queria participar do núcleo.



Na UJC conversamos com a presidente da união, que também nos explicou o seu funcionamento, o seu papel fundamental para o estímulo de debates políticos entre os jovens e para a participação dos jovens na construção da Revolução.

terça-feira, 2 de março de 2010

XVII Brigada Sul-Americana de Trabalho Voluntário e Solidariedade com Cuba

Nesta brigada sul-americana estavam presentes brasileiros, uruguaios, argentinos, chilenos, cubanos (obviamente) e um neozeolandes penetra. Havia mais de 300 brigadistas.

O início da brigada foi marcado por uma festa de recepção.

Já no segundo ou terceiro dia, fomos separados em dois grupos. O nosso, o grupo B, foi em direção ao Hotel onde ficaríamos hospedados, perto de onde ocorreriam nossas atividades, na cidade de Cienfuegos.

No caminho paramos em Santa Clara, conhecida como a cidade do Che, para conhecermos o museu que existe em sua homenagem e onde está enterrado seu corpo e de vários guerrilheiros de sua frente, além de vários itens pessoais.





Conhecemos também o monumento em comemoraç
ão ao descarrilamento do trem blindado, marco da Revolução Cubana, uma vez que simbolizou a força da guerrilha e foi uma ótima fonte de abastaecimento bélico.



Trator responsável pelo feito

Ao final do dia chegamos ao Hotel Pasacaballo, um hotel chique. Digamos que foi um choque. Como poderia haver um hotel com tanto conforto em Cuba, onde os recursos são tão escassos? Foi ai que começamos a nos perguntar sobre porquê há tanto investimento no turismo, se isso é realmente necessário e até que ponto é prejudicial (ler texto posterior que fala sobre a economia cubana).

No dia seguinte a chegada em Cienfuegos, fomos a uma cooperativa agrìcola fazer trabalho voluntário e conhecer um pouco da sua estrutura e os trabalhadores. Lá conhecemos Maximus, um agricultor que sabia mais de Brasil do que nós mesmos.

Logo largamos um pouco o trabalho e começamos a conversar com ele. Em meio a conversa, muitas surpresas. Perguntamos sobre o MST e ele nos disse que conhecia bem. Ele havia conhecido na escola todos os movimentos sociais da América Latina. Aliás, a sua capacidade de compreens
ão política nos mostrou que ele possuia uma análise muito mais complexa do Brasil do que nós mesmos.
Sobre Cuba, dentre várias outras coisas, nos disse que hoje há um problema que os jovens não querem permanecer no campo, como por exemplo os seus 3 filhos, em que um estuda medicina, outro engenharia da computação, e sua filha que ainda está no ensino médio.




No dia 28/01, dia seguinte, fomos à uma cidade histórica, que hoje é muito frequentada pelos turistas, que chama Trinidad.

Nossa passagem por la foi relativamente breve. Porém, suficiente para gerar novas inquietaç
ões em relação ao turismo. Conhecemos alguns monumentos históricos e partimos.




Durante nossa estadia em Cienfuegos fizemos várias atividades como: conhecer o Comitê de Defesa da Revoluç
ão (CDR), que é uma organização responsável por atividades (eleição, debates, lazer, etc.) de cada quarteirão em todo o país (existe um CDR em cada quarteirão do território cubano, em que a direção é eleita pelos moradores), fomos à praia, conhecemos uma escola de artes e a famoza escola de medicina, conhecemos a refinaria que está sendo reativada após um projeto da ALBA, etc. Seguem algumas fotos dessas atividades:













Durante todos esses dias estivemos em um ônibus com uruguaios, com quem fizemos amizade. Foi bom também para afinarmos o nosso espanhol.



Acabados os dias de mordomia, em um hotel de algumas estrelas, voltamos ao Acampamento.

Durante os últimos dias da brigada, houve ainda diversas atividades, como a palestra de um deputado e de uma economista, conversas com integrantes da Uni
ão de Jovens Comunista, da Central dos Trabalhadores Cubanos, da Federação de Mulheres Cubanas, além de mais trabalho voluntário em cooperativas agrícolas, como tirar pedras do terreno para passar o arado e carpir.

Houve um dia que fomos a Havana para passear. Lá conhecemos o Museu da Revoluç
ão e a Famosa Praça da Revolução, aonde está o rosto do Che em um edifício. Na volta, por conta da nossa incapacidade de compreensão do espanhol, erramos o horário do ônibus e tivemos que pegar um taxi. Lá se foram U$30.





Vale aqui destacar o papel fundamental do maior elemento de integração latino-americana: o futebol. Através dele conhecemos muita gente e fizemos algumas amizades. Inclusive com argentinos.

Passados os dias de atividades e trabalho, a brigada chegava ao fim. Nos juntamos novamente com o grupo A e houve uma festa de despedida em que cada país apresentou um pouco de sua cultura.




Seguem algumas fotos para recordação do Acampamento