quarta-feira, 21 de abril de 2010
Nossa Semana Santa, mas nem tanto
domingo, 11 de abril de 2010
Nota sobre a tragédia no Rio de Janeiro
O que a polícia faz aos poucos no Rio de Janeiro, a chuva fez de uma só vez em três dias. Um grande massacre de trabalhadores (até agora são 229 mortos).
Não pensem que isso foi coisa de Deus, ou que é culpa do aquecimento global e das mudanças climáticas, ou muito menos das pessoas que moram nessas zonas de alto risco.
A lista de culpados é grande, mas facilmente de se identificar. Dentro dela estão desde os empresários que exploram os trabalhadores com baixos salários, passa pelo governo que não tem políticas habitacionais e de planejamento urbano, até os rentistas e especuladores imobiliários que impossibilitam que as pessoas que não possuem dinheiro morem nas zonas baixas. Por isso elas são obrigadas a morar afastadas do centro e em zonas de risco.
Não nos estranha agora que um país que gasta bilhões de dólares em guerras no Iraque e no Afeganistão e que precisa injetar dólares em todos os cantos devido à crise, dõe U$50 milhões para reconstrução de moradias perdidas no Rio. Quem sabe esses dólares não sejam gastos com empresas estadounidenses ligadas à construção civil, ou mesmo ajudem nas "relações diplomáticas" entre EUA e Brasil, já que aquele pretende instalar bases militares no Brasil e nos países da América do Sul, além das sete bases a serem feitas na Colômbia, com a desculpa de combater o narcotráfico. Que bela coincidência, não? Rio de Janeiro, narcotráfico, base militar. Aposto que os gringos não choram pelas mortes no Rio.
Aliás, lembramos muito bem o que foi a Aliança para o Progresso, implementado na década de 1960, e as suas consequencias políticas, econômicas e sociais.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Para maus interpretes e inimigos da Revolução Cubana
"... Já se disse que Cuba não poderia socializar mais que a miséria. Nesses últimos 20 anos Cuba fez mais que isso, o que exige que se retome a crítica desse julgamento cruel. Chega-se onde quando se parte da "socialização da miséria"? Os inimigos da revolução cubana prestam-lhe um serviço, certamente sem o querer!"
Florestan Fernandes, Da Guerrilha ao Socialismo: a Revolução Cubana, 1979*.
Ao analisar a Revolução Cubana, muitas pessoas tendem a encaixá-la em alguma teoria "pré-fabricada", escrita, seja anteriormente ou posteriormente à revolução, na Europa ou em qualquer parte do mundo. Muitos o fazem para tentar desqualificar o seu triunfo, outros também, mas sem o saber. Esses, ao fazê-lo, percorrem um caminho totalmente absurdo de investigação e compreensão da história. Ao invéz de partir dos fatos históricos para analisar a realidade e ver de que forma a teoria influenciou a história e de que forma a história modificou a teoria, tentam encaixar a revolução e o socialismo cubano em alguma teoria, como se coloca um parafuso em um buraco de um prego menor. A força.
Para aqueles que imaginam estar sendo marxistas ao fazê-lo, ele mesmo, o Marx, já havia alertado de que o socialismo não é uma teoria, uma lei ou um decreto, mas sim um processo de transformação que se dá pelas movimentações da sociedade. Claro que não se deve esquecer das teorias ou de processos históricos passados. O que não se deve fazer é tratá-los como verdade absoluta em qualquer espaço e tempo.
Enquanto dizia-se, baseado nos escritos de Marx, através de uma repetição totalemente alienada e sem comprender a que tempo e espaço a que ele se referia, de que os camponeses eram uma classe conservadora, pois o seu objetivo é lutar pela propriedade privada, lá estava Fidel e o exército guerrilheiro aliando-se aos camponeses e ganhando seu apoio para tomar o poder e fazer a revolução, assim como descreve Florestan:
"...se tal evolução (da coletivização da produção agrária) não fosse possível, o desenvolvimento das forças produtivas e a estabilização do socialismo em Cuba teria sido muito mais difícil (ou, mesmo, improvável). Portanto, por trás de uma intensa, contínua e crescente estatização se achava a força viva da revolução, a "classe revolucionária cubana", os trabalhadores agrícolas."
Camponeses! Muitos já haviam se tornado trabalhadores assalariados e que naquele momento ainda reivindicavam a propriedade privada, mas que a partir da revolução incorporaram-se à luta pela propriedade coletiva. Foi, e é, através das cooperativas agrícolas que a revolução cubana sustentou-se e triunfa.
Enquanto disseram que o socialismo cubano não suportaria a pressão do embargo econômico dos EUA com o fim da URSS, lá estava a sociedade cubana, já muito mais avançada em seu nível de consciência do que qualquer sociedade no mundo, suportanto as dificuldades enquanto o governo cubano incentivava o turismo tipicamente capitalista (mas com monopólio estatal) para garantir a entrada de dólares (na época a única moeda de transações internacionais) e as condições materiais mínimas para dar continuidade à revolução.
"...Passaram-se quase vinte anos – e até os oráculos falharam. Os cubanos conhecem muito bem seus problemas internos, ao contrário do que supõem os inimigos, mas preservam, como raros povos no mundo, o sagrado direito da autodeterminação. E, politizados e instruídos, têm acompanhado com muita atenção as didáticas lições que o mundo pós-moderno lhes enseja." Luiz Ricardo Leitão, Sobre democracias & hipocrisias, 2010.
"...Os caminhos já foram traçados e refeitos quatro ou cinco vezes e é quase certo que, no futuro, o mesmo se repetirá, cada vez mais que o país atingir o topo de uma nova virada. Os recuos, os tateios e os desvios se farão, não obstante, com um largo acúmulo de vantagens e constante ganho de terreno. Ao que parece, não existe o risco de um paso a frente e dois para trás." FF, 1979.
Após 31 anos do texto de Florestan Fernandes e 51 anos da Revolução Cubana, eu diria ao professor, se isso fosse possível, que mesmo sendo necessário dar um ou dois passos atrás, como o caso do turismo e das parcerias em setores estratégicos com a iniciativa privada extrangeira, parece ainda não haver risco. O que são 2 passos atrás para quem já deu mais de 50 a frente?
Assim como Leitão, tenho certeza que @s cuban@s possuem plena consciência do que se passa e acredito que ainda surpeenderão o mundo mais uma vez enquanto especula-se sobre o seu futuro.
* Da Guerrilha ao Socialismo: a Revolução Cubana, Florestan Fernandes, 1979, Coleção Assim Lutam os Povos, Editora Expressão Popular, 2007.
** Sobre democracias & hipocrisias, Luiz Ricardo Leitão, Brasil de Fato, 16/03/2010.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Os meios de comunicação alternativos
As rádios e TVs comunitárias tiveram um papel fundamental no contra-golpe à tentativa de golde em abril de 2002. Apensar de muitas terem sido fechadas e boicotadas nos dias 11 e 12 de abril, muitas também conseguiram funcionar. Enquanto a grande mídia (principalmente a RCTV, a qual virou TV por assinatura, após a recusa do governo a renovar sua concessão de canal) mentia nos noticiarios dizendo que o Chavez havia renuciado e que a ordem já estava sendo reestabelecida, as rádios e TVs comunitárias informavam à população o que se passava de fato.
Durante a nossa visita participamos do programa "Comuna Bario Adentro" em que o tema daquele dia era luta de classes. Lá falamos um pouco sobre a conjuntura política do Brasil, sobre a nossa viagem, sobre o que já tinhamos conhecido na Venezuela e sobre o MST (aqui todos adimiram muito o movimento e perguntam sempre sobre ele).
No final do dia fomos ao estádio do Caracas Futebol Clube, mais uma vez, para assistir ao jogo Cruzeiro x Deportivo Itália pela Libertadores, só que desta vez assitimos pelo lado de fora, já que tem uma parte que se pode ver o campo bem de perto e estava bem vazio. No meio do jogo o sistema de irrigação do campo ligou. Pelo menos isso deu alguma graca ao jogo...
No dia seguinte, fomos a uma aula dos estudantes de Trabalho Social da Universidade Central. Essa disciplina é uma espécie de disciplina de extensão e a idéia é formar futuros formadores nas comunidades. O trabalho é com lideranças das comunidades e pretende realizar atividades políticas diversas. O projeto parece muito interessante, apesar de ter somente o período de um semestre (4 meses). O grupo de estudantes desse semestre irá trabalhar especificamente em La Vega, uma favela de Caracas aonde as estudantes, que se tornaram nossas amigas, Jessica e Mariana, já realizavam trabalhos.
Apesar de estarmos muito mais longe do que os venezuelanos na questão do protagonismo popular, essa idéia daria um trabalhoso, mas bom projeto de extensão no Brasil.
No dia 15/03, convidados por Kevin, presidente do Centro Estudantil de Trabalho Social e que também se tornou um "pana", participamos da apresentação de um trabalho seu que falava sobre o conceito de movimento social e sobre os movimentos sociais na América Latina. Nosso papel era tentar falar, dentro do nosso ainda limitado espanhol, sobre os movimentos sociais no Brasil e tentar fazer um paralelo com os movimentos em Caracas. Até que nos saimos bem na nossa tarefa, mas quando aberto para perguntas, os estudantes se demonstraram mais interessados em nossa viagem do que na nossa simples exposição e nos movimentos sociais brasileiros.
Essa participação foi importante para entendermos algumas semelhanças e diferencas entre a formação social e os movimentos sociais dos dois paises, tanto pela reflexão que fomos obrigados a fazer, quanto pela contribuição da professora da disciplina.
Dois dias depois fomos a um grupo de estudos composto por artistas que estão fazendo estudos marxistas e relacionando-o à arte. Fomos convidados pela Marília, do coletivo "Esquerda Marxista" e atriz formada na Unicamp, que conhecemos no refeitório da UBV. Em pouco tempo de conversa descobrimos que conhecíamos muitas pessoas em comum, já que ela havia estudado na Unicamp.
Daniel e eu brincamos sempre que não é que o mundo seja pequeno, mas na verdade a classe média é que é, e a esquerda é ainda mais.
No dia 18 fomos a uma palestra na UBV sobre a guerrilha venezuelana nas décadas de 60 e 70. Lá estava o Comandante Carlos Bitencourt, que hoje pertence ao coletivo Los Comuneros. Ao longo de sua interessante exposição sobre a guerrilha e sobre a conjuntura política da Venezuela, prendeu-me a atenção particularmente em um momento em que relatou o seu contato com uma camponesa no seu período de guerrilheiro.
Falando sobre o poder de manipulação da mídia e a distorção de informações, ele relatou que uma vez ao chegar a um povoado uma senhora camponesa, muito assustada, disse-lhe: "por favor senhor, estupre a mim, mas não a minha neta". Logo ele colocou a sua mão sobre o ombro da senhora e lhe respondeu que só se relacionava sexualmente com alguem quando havia concentimento mútuo.
Esse era o tipo de informação que a senhora camponesa tinha, mesmo com pouco acesso aos meios, tamanho o poder da grande mídia. Isso era o que a mídia divulgava a respeito dos guerrilheiros (e divulga ainda hoje sobre as FARC), assim como divulgou-se ao londo do século XX que os comunistas comiam criancinhas. Nunca disseram que eles estavam em uma luta armada pelo socialismo e o que era isso, mas sim que eles chegavam aos povoados, estupravam e assassinavam as pessoas e saqueavam o local.
Esse depoimento me fez pensar, mesmo já sabendo de toda manipulação dos meios de comunicação e por isso tentando ler e ver meios alternativos de comunicação, o quanto ainda somos enganados pela grande mídia que finge defender a democracia, mas que na verdade defende, como único fim, a propriedade privada.
No final do dia fomos mais uma vez a Radio Arsenal, só que dessa vez participamos pouco e ficamos ouvindo o programa de dentro do estudio, que teve como tema a Comuna de Paris e a sua contribuição histórica para a construção dos Conselhos Comunais na Venezuela.