"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Brasil de Fato

O jornal Brasil de Fato esta sempre muito bom. Porem, as ultimas materias estao especialmente boas!

Dentre as mais recentes tem: o texto da brasileira desaparecida que estava no navio de ajuda humanitaria a Faixa de Gaza, escrito antes do ataque e que esclarece o que se passou e desmente a versao do governo israelense (Por que vou a Gaza); uma entrevista com o jornalista Jose Arbex Jr., que fala da conjuntura brasileira (Movimentos sociais precisam criar um novo partido); e uma materia que denuncia o financiamento dos EUA aos blogueiros cubanos, "insatisfeitos" com o modelo cubano (EUA financiam "blogueiros" cubanos).

Ao invez de ler a Folha, ou assistir o Jornal Nacional, recomendamos a sua leitura: www.brasildefato.com.br.

BOA LEITURA!!!

obs: desculpem a falta de acentos e cedilhas. o teclado aqui nao tem.

domingo, 23 de maio de 2010

Algumas verdades sobre a Colômbia

Um dia desses fomos a uma palestra na Universidade Nacional da Colômbia, e la recebemos um panfleto sobre a denúncia do terrorismo de Estado na Colômbia. Após algum tempo perguntando e obtendo poucas respostas e assistindo alguns documentários, resolvemos escrever algumas verdades que encontramos por aqui, junto com trechos desse panfleto.


"...A primeira causa do terrorismo de Estado é a corrupação da linguagem, a invenção de eufemismos em que palabras significam seus opostos e escondem grandes crimes. Já nao existe consenso global que condena os crimes contra a humanidade. Isso porque os massacres e os assassinatos seletivos asseguram a confiança dos investidores extrangeiros. Os indígenas são expulsos de suas terras para que minas possam ser exploradas, trabalhadores desaparecem para que o petróleo seja extraído. Assim a imprensa internacional aplaude o êxito do presidente em “pacificar" o país..."

"...Colômbia, Estados Unidos e Israel, os epicentros do terrorismo de Estado, são os únicos países na Assembléia Geral das Nações Unidas que têm sido condenados, mas não são postos em juizo..."


O fortalecimento das Guerrilhas nas décadas de 1980 e 1990

As guerrilhas na Colômbia já perduram por muitas décadas. Dentre elas, as mais conhecidas são: FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular) e ELN (Exército de Libertação Nacional).

Durante as décadas de 1980 e 1990 a perseguição política atingiu o seu auge. Foram assassinados mais de 4 mil militantes da União Patriótica (partido político ligado aos movimentos insurgentes, que pretendia pela vía legal chegar ao poder), dentre eles, prefeitos eleitos e 2 candidatos à presidência (assistir ao documentário "Baile Rojo").

Por conta desse extermínio da esquerda, muitos militantes, cercados de ameaças, viam dadas 3 opções: mudar-se para outro país, morrer, ou entrar para a guerrilha. Muitos deles, percebendo a impossibilidade da luta pela via legal e a necessidade de permanecer no país para lutar, resolveram compor as frentes das guerrilhas. A maioria foi para as FARC-EP.



As acusações de que as FARC-EP são um grupo narcotraficante

Escuta-se muito por aí, inclusive dentro da esquerda, que as FARC-EP em meio ao contato com a coca, perdeu-se no seu ideal e achou-se nas grandes somas proporcionadas pela produção de coca para fabricação de cocaína.

Expliquemos: a plantação de coca na América é muito mais antiga que as FARC-EP e até mesmo que a chegada dos europeus em território americano. O fato é que, quando essa planta começou a ser utilizada para produção de cocaína na Colômbia, tornou-se muito mais lucrativo plantá-la em todo território, do que plantar milho, ou qualquer outro alimento. Nos disse um amigo que existe um dito muito conhecido por aqui: "Antes, os camponeses saíam com o caminhão cheio de alimentos e voltavam com o bolso cheio de dinheiro. Hoje, com a coca, os camponeses saem com o bolso cheio de coca e voltam com um caminhão cheio de dinheiro". A questão é que muitos campos hoje são destinados à plantação da coca. Dentre eles, campos sobre comando das FARC-EP, que não proíbe a plantação da coca. Porm, as FARC-EP alega não ter vínculo algum com a produção de cocaína (que tem como maior mercado consumidos os EUA, principal financiador do "combate" ao narcotráfico na Colômbia).

Ainda hoje as FARC-EP realizam formação política, e demonstram-se mais convicta do que nunca dos seus princípios (assistir ao documentário "FARC-EP, insurgência do século XXI, realizado por argentinos que conviveram por algum tempo com a guerrilha).




Combate à guerrilha: a "Seguridade Democrática" do presidente Uribe

"Seguridade Democrática" foi o nome dado pelo presidente Uribe para as políticas de combate às guerrilhas.

"...De acordo com o presidente, acordos humanitários e iniciativas de paz são pretextos para subversão. Quem os pede sabe de antemão que serão rechacados pelo Estado. Desumanizar o inimigo e os que lutam pela paz, facilita o bombardeio de povos subversivos. Para o governo, esses são os verdadeiros inimigos da paz..."

"...A Política de Seguridade Democrãtica não é nem democrática nem de segurança. A corrupção da linguagem acompanha cada grande crime político. A noção de “seguridade democrática” não é a excessão. No atual contexto colombiano, assassinar líderes de movimentos sociais para assegurar a reeleição de um partido de assassinos políticos é democracia. “Segurança” é o eufemismo de cemitérios com tumbas sem nomes. “Liberdade de Imprensa” existe quando anuncia-se um “triunfo militar”: assassinato de campesinos desarmados..."

Fruto dos 8 anos dessas políticas, hoje existem 4 milhões de desabrigados e mais de 30 mil familiares de desaparecidos na Colômbia.

Esse programa chegou ao absurdo de oferecer recompensas para captura de guerrilheiros vivos ou mortos. Política genial para exterminar jovens e indigentes (um pouco mais perverso e menos sarcástico do que a política do governo Serra na cidade de São Paulo de "limpeza" do centro jogando água fria, durante o inverno, nas crianças da cracolândia) que vestidos com roupas camufladas, se passaram facilmente por guerrilheiros. Isso foi um fracasso. Mas antes, levou muita gente para a cova.

"...O seu governo presenciou a morte de mais sindicalistas e dirigentes de movimentos sociais que qualquer outro no mundo..."
"...Quando o presidente afirma que guerra é paz, militarização é segurança, desigualdades são justiça social, os que conseguem entender essas “verdades oficiais” temem ouvir um bater a sua porta a meia noite. A definição oficial de um terrorista é aquele que consegue entender que o caminho do governo à paz é gastar bilhões em aviões de guerra, em helicópteros, em bases militares, com conselheiros militares e mercenários. De acordo com o presidente, os grupos de direitos humanos que se opõe a assassinar aos adversários, que propõe o diálogo ao invéz de monólogos, são inimigos da paz. Somente os monólogos asseguram que exista uma só verdade oficial e nenhuma outra..."

O governo tem como princípio a não negociação para trocas de presos políticos com a guerrilha. Imaginem se em São Paulo a polícia se negasse a negociar em todos os sequestros que existem, nem que fosse por uma semana. Declarou Cesar Augusto, capturado pelas FARC-EP em combate: "Não sei quem é mais desumano. Aqueles que nos sequestam ou aqules que se esquecem de nós". A resposta não parece óbvia para você, Cesar?

Além de toda a perseguição política e dos assassinatos, as políticas da "segudidade democrática" representam o desvio de muitos recursos de políticas sociais para a sua realização, o que ampliou a pobreza, reduziu os direitos basicos da população e aumento a dívida pública.

"...Clinton, Bush e Obama o ajudaram (Uribe) com bilhões de dólares em armas, centenas de conselheiros para promover 30 mil esquadrões da morte e 300 mil soldados..." De graça é que não ia ficar.


A linha política dos 8 anos de Governo Uribe

Assim como muitos, ou quase todos, os presidentes na América do Sul das décadas de 1980, 1990 e 2000, Uribe seguiu as recomendações do Fundo Monetario Internacional.

Segue a linha política a qual ele legitima: "...De acordo com o presidente do FMI, a pobreza e o desemprego são os preços da democracia e da prosperidade..."

Porém, porque só @s trabalhadores pagam o preço, enquando os ricos prosperam?


O papel fundamental da grande mídia

Assim como no Brasil, na Colômbia os grandes meios de comunicação formam a opinião pública, além de divertir a população com as suas novelas pela noite. Os grandes meios são a ferramenta da legitimação dos assassinatos, divulgando que todos aqueles que morrem em "combates" eram de fato guerrilheiros. Ocultam o porquê a guerrilha existe e porquê ela luta, dizendo que são somente assassinos narcotraficantes.

A grande mídia é composta hoje pelo monopólio de duas redes privadas: Caracol e RCN.


O fenomeno do Paramilitarismo e o narcotráfico

"...O presidente conta com apoio de mais narcotraficantes no congreso que qualquer outro presidente ou primeiro ministro em todo o mundo, incluindo o Afeganistão (maior produtor mundial de papoula). Uribe é responsável pela expulsão da maior quantidade de pessoas na menor quantidade de tempo de suas terras que qualquer outro presidente na história, incluindo Israel..."

Paramilitares são grupos mercenários de extermínio, normalmente compostos por membros do próprio exército. São os responsáveis por grande parte dos assassinatos políticos. Hoje estão presentes no governo e em todas as partes. Diz-se que existem informantes por todas as partes, gerando uma atmosfera de medo que se descubra que você é subversivo, simpatiza com a guerrilha, luta pelos direitos humanos, ou simplesmente usa uma camiseta do Che Guevara.

São eles que fazem o "trabalho sujo".

É muito difícil obter informação a respeito desses grupos. Isso porque a mídia e o governo fazem questão de omitir a sua existência. Mas os poucos que sobrevivem ao entrar em contato com eles, contam as histórias, e os fatos e os massacres comprovam o seu tamanho e o seu poder.



As sete bases militares estadounidenses, ou as sete apunhaladas no coração da America Latina

"...O presidente tem permitido o estabelecimento de mais bases militares norteamericanas que todos os outros presidentes latinoamericanos juntos..."

Assim como declarou Fidel Castro, as sete bases militares dos EUA em territróio colombiano não significam somente uma ameaça à soberanía colombiana, mas também uma ameaça à soberanía de toda a América Latina. Não são simples bases , reforço militar, troca de conhecimento, mas sim duros golpes a ao processo de independência do nosso continente em relação aos EUA. A Colômbia possui a mesma importancia estrategica, ou ate mais, se tratando dos crescente governos progressistas e independentistas na America do Sul, que Israel no Oriente Medio, para os EUA.

"...De acordo com o presidente, ceder territorio a um poder imperial extreangeiro para construir sete bases militares que operam de acordó com suas próprias leis e jurisdicao, é a nova definicao de soberanía. Soberania é igual a ocupacao extrangeira..."


Até quando vamos permitir que eles não nos deixem perceber que o mundo também pode ser visto assim:


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*Os trechos entre aspas foram retirados do texto: "Colômbia: Terrorismo de Estado em nome da paz", de James Petras, Forum Internacional, Bogotá – Colômbia, 13 e 14 de maio de 2010.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mais rachadura no sertão - Asa Branca

Em um momento de descontração e inspiração, resolvemos escrever uma paródia da música Asa Branca com o caso da transposição do Rio São Francisco.

Durante o intervalo de um forum sobre direitos humanos na Universidad el Valle em Cali/Colômbia, escutávamos dois estudantes tocarem flautas artesanais. Ao escutar-los me lembrei do Marcelo Pupo arranhando um pífano na Unicamp e nos longos caminhos de incubação de Barão Geraldo até Mogi Mirim e Sumaré e logo me puz a cantar umas das músicas que ele tocava "muito bem": Asa Branca.

Daniel, um poeta de plantão, imendou uma paródia relacionando a canção ao caso da transposição do Rio São Francisco. Eu, um oportunista, dei sequência a boa idéia. Juntos, fizemos a letra baseada no relato fictício de um trabalhador ribeirinho expulso das suas terras.


Mais rachadura no sertão

Encontraram a terra ardendo
Propuseram a transposição
Pra irrigar mais latifúndio
Pra enriquecer mais o patrão

Pra brasileiro, que nada
É la pros gringos, pra exportação
O brasileiro, ficou com nada
A cor da prata, eu não vi não

Até mesmo as asas brancas
Foram embora do sertão
Só restou o boia-fria
Causou mais fome e destruição

Hoje estreiro e sem cor
Numa profunda sequidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Cabou o verde que restava
Sumiu toda a plantação
O velho chico morreu de sede
E por farta d'água, acabou a canção.

domingo, 16 de maio de 2010

Fotos UNC






Universidade de Havana?
Não!
Universidade Nacional da Colombia.

ÁvilaTV, Mercal, 13 de abril e Bicentenário

Após nossa Semana Santa de ócio, voltamos a um pouco de agitação.

No 5 de abril fomos conhecer, levados pela Bruna, a ÁvilaTV. A Ávila é uma espécie de MTV (em seu formato) só que diferente desta, ela é politizada. O seu público é de jovens e está ativamente tratando e participando dos assuntos revolucionários com músicas, documentários, programas de debate, filmes, noticias, etc..





No dia seguinte fomos finalmente conhecer por dentro um Mercalito (mercado que faz parte da Missão Mercal, que constitui em mercados por toda a Venezuela com alimentos básicos a metade do preço dos mercados privados) e fazer algumas compras, já que o refeitório da UBV está em reformas e agora teremos que cozinhar todos os dias pra economizar.

Compramos macarrão, leite em pó, molho de tomate, sardinha, atum, carne, açúcar, uma latinha de suco, presunto moido, arroz e lentilha. Tudo deu BsF$50,09 o equivalente a 5% do salário mínimo. Acho que com 5% do salário mínimo no Brasil, por volta de R$25,00 não se compra nem a metade disso.

Dia 8 logo pela manhã ajudamos a lavar o dormitório em que estamos (nada mais justo..) e fomos a uma atividade cultural na UCV em que houve música na parte da universidade que se chama "terra de ninguém" e a qual tinha como objetivo chamar a atenção dos estudantes para os problemas da universidade e denunciar a falta de democracia interna e a tentativa da reitoria de expulsar alguns estudantes.



A noite chegou Niño, motorista da universidade, no alojamento e brinquei que ele chegou muito tarde e estava trabalhando muito. Ele então disse que a função dele era levar os estudantes com segurança para suas casas e que esse sacrifício, de trabalhar mais do que 8 horas, era pela Revolução. Ele antes era motorista da Coca-Cola. Ta aí uma lição que já havíamos aprendido em Cuba.

No dia seguinte fomos jantar com o professor de economía da UFSC, Nildo Ouriques, que estuda América Latina e está realizando um trabalho no Banco Central da Venezuela até julho. Depois de uma ótima conversa sobre economía, universidade, política, Venezuela, América Latina e futebol, de algumas cervejas e de uma ótima empanada espanhola, voltamos para a universidade para dormir.

Na semana seguinte, iniciada dia 12, participamos de uma feira cultural na UBV. Lá finalmente vendemos nossas pulseiras e fizemos alguns brigadeiros para dar um troco também. Em 5 dias de feira conseguimos fazer uns 65 dólares. Percebemos que seria difícil viver disso, mas ajudou bastante nosso orçamento.

No dia 13 fomos à manifestação em memória da vitória popular de retomar o poder após um golpe no dia 11/04/02, e que, junto com o apoio de boa parte do exército, reempossou o Chávez, que em momento algum renunciou, aonde haviam cerca de 30 mil milicianos armados mais toda a popualação ouvindo o discurso do Chávez e mostrando à oposição que o povo e o governo não aceitarão mais golpes como os que ocorreram entre as décadas de 1960 e 1980 em toda a América Latina, e como ocorreu ano passado em Honduras. Para o povo venezuelano, "todo onze tem o seu treze". (assistir o documentário "A revolução não será televisionada")

Depois de várias atividades, no final da semana fomos à conferência de inauguração do jornal "Luta de Classes" da Corrente Marxista Internacional, com a presença de Alan Woods.

Dia 19/04/2010 fomos ao desfile de comemoração de 200 anos de independência do território venezuelano em relação à Espanha. Ao lado dos presidentes dos países amigos componentes da ALBA, como Cristina Fernandes, Raul Castro, Evo Morales, Rafale Correa, Daniel Ortega, etc., Chávez falou do tema e insistiu de que o processo de independência ainda não está terminado e da importância da união dos países caribenhos e latinoamericanos para que se tenha um dia uma América do Sul unida e soberana.







terça-feira, 11 de maio de 2010

A Venezuela que a Globo não mostra

Diariamente, ou semanalmente no caso da Veja, vê-se na Globo reportagens sobre a Venezuela. Porém, nunca se fala dos avanços que o governo revolucionário tem conseguido. Somente preocupam-se em tentar criar uma imagem de um louco ditador para o Chávez, coisa que é ridicularizada e motivo de piada para os venezuelanos. Baseado em 75 dias vivendo na Venezuela na Capital Caracas e em Barinas, estado tipicamente agrícola, e nos dados da prestação de contas anual do presidente, segundo previsto por lei na constituição de 1999, do ano de 2008.

Na contramão de quase todos os países da América do Sul, no final dos anos 1990, o governo venezuelano já se opunha às reformas neoliberais ditadas pelo FMI, praticando políticas keynesianas de forte intervenção e gastos estatais.

Com essa política, ao contrário dos outros países do continente que viam seu PIB crescer timidamente, a Venezuela viu o seu PIB dobrar em 10 anos. Isso não só pela iniciativa pública, mas também pela iniciativa privada (mais de pequenos produtores do que de grandes) através do aumento e da facilidade de acesso ao crédito.

Muitos dizem que fazer o que o Governo Chavez tem feito é facil com a riqueza petroleira, já que a Venezuela tem hoje a maior reserva descoberta do mundo. Porém, em mais de 50 anos, os governos de direita nunca o fizeram e todos sabem o porquê.

Foi somente após a estatização de 100% da PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.) em 2003 (após o paro petroleiro de dezembro de 2002) que o governo tratou de transferir a riqueza gerada pelo petróleo, não para o bolso de alguns poucos empresários venezuelanos e extrangeiros, como se fazia antes, mas sim para a população. Para essa transferência criou-se um Fundo de Desenvolvimento Nacional, ao qual até 2008 a PDVSA já havia depositado quase U$22.000.000.000. Isso mesmo, quase 22 bilhões de dólares.

Os bilhões de dólares desse fundo não foram somente para crédito, mas principalmente para programas de saúde, educação, alimentação, segurança, etc., o que acabou consolidando o sucesso da Quinta República e do Governo Revolucionário.

De um IDH* (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,64 em 1998, a Venezuela passou para um IDH de 0,84 em 2008. Isso porque houve avanço em todas as áreas em que divide-se a pesquisa do IDH: saúde, educação e renda.

A expectativa de vida aumentou em um ano e meio, a mortalidade infantil caiu de 21,4 por mil nascidos vivos para 13,7, porque houve melhoria na cesta de alimentos da e os programas de saúde, como o Bario Adentro que já atingia em 2008 a 88,9% da população, têm tido êxito.

A escolaridade que em 1999 era de 85% passou para 93,6% em 2008. O acesso ao nível secundário e universitário que antes era de 21%, aumentou para 35,9%. O analfabetismo, grande conquista anunciada com orgulho pelos venezuelanos, caiu para 0.4%.

No governo passado, os miseráveis, que são aqueles que vivem abaixo da linha de pobreza, chegavam ao número surpreendente de 42% de toda a população. Já aqueles que são considerados pobres, representavam 75,5% de toda a população venezuelana. Após 10 anos de governo, Chávez reduziu essas quantias para 9,1% e 30%, respectivamente. O que não significa que o governo esteja conformado, já que o objetivo é levar esses números a zero. Mas o governo está conciente dos avanços.

O índice GINI**, que avalia a distribuição de renda foi de 0,4865 em 1998 a 0,4099 em 2008, tornando-se a Venezuela o país menos desigual da América do Sul. Para se ter idéia, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, possui índice GINI de 0,602.

Já o desemprego, que antes era de 15,3%, passou em 2008 para 6,8%.

Apesar de todos esses números favoráveis e de dar inveja a qualquer país desenvolvido, o Governo Chávez não passou somente por momentos bons.

No ano de 2002, mais precisamente em 11 de abril de 2002, houve uma tentativa de golpe encabeçada por alguns militares, políticos de oposição, grandes empresários e pelos principais meios de comunicação privados. Após 3 dias de intensas manifestações populares em toda Venezuela e com apoio de boa parte do exército, Chávez volta da prisão, aonde o tinham colocado, no dia 13 de abril e retoma o seu cargo, constitucionalmente garantido, de presidente da República Bolivariana da Venezuela (esse fato histórico merece destaque por mostrar o que os meios de comunicação privados defendem e do que eles são capazes - assistir o documentário "A Revolução não será televisionada" além de muitos outros que explicam o que se passou - e por marcar a história venezuelana e dar origem a um dito "todo 11 tem o seu 13" que simboliza que o povo venezuelano nunca mais abaixará a cabeça diante da injustiça e da exploração).

Insatisfeitos com o fracasso do golpe de abril, a oposição e os meios de comunicação organizaram em dezembro do mesmo ano um boicote petroleiro e de diversos setores economicos (alimentação, comércio, combustíveis, etc.) conhecido como "Paro Petroleiro" (assistir o documentário "Jesus y él Viejo"). Porém a compreensão da população de que aquele momento de escasses de produtos era um problema de disputa política e não de incompetência do governo e o esforço dos trabalhadores que estavam ao lado do governo fez com que o governo resistisse a um nível de 19,2% de desemprego em 2003 e a uma alta inflação, levando o PIB a crescer 18,3% em 2004 durante a recuperação da economia do país.

Em 2008 a inflação ainda era muito alta, cerca de 31%. Porém, o diagnóstico da inflação não é o que poderia chegar um economista em uma análise "puramente macroeconômica" (se é que isso seja possível) que levaria a crer que o problema tem origem no aumento de demanda pelo crescimento econômico. A inflação na Venezuela é essencialmente política e se dá por um forte boicote e especulação do setor privado, em resposta ao congelamento de preços e ao alto controle dos reguladores estatais, que somado ao aumento do salário real, reduziu a taxa de lucro dos grandes empresários. Vale destacar aqui que a inflação não atingiu alguns alimentos que compõe a cesta básica, já que o governo controla hoje boa parte do setor de destribuição por mercados estatais e pela forte regulação e punição daqueles que desrespeitam a lei.

A sequência de ataques do setor privado fez com que o governo avancasse no processo revolucionário até mesmo como forma de precaução. A necessidade da segurança alimentar fez com que o governo se apropriasse de grande parte do setor de distribuição de alimentos (como pela estatização dos mercados de uma grande rede transnacional e pela criação de muitos MERCALs - mercado popular) e também de produção, além de acelerar o processo de reforma agrária e incentivar a pequena produção de alimentos.

Até 2008 o governo havia recuperado 2,134 milhões de hequitares, aumentado a área de colheira em 45%, e conseguido autosuficiência em arroz, milho, café e carne suina.

Além do avanço para a soberania alimentar, o governo adotou, através de parceria com diversos países e por uma política de substituição de importações, um projeto de industrialização, para enfim tornar-se independente de importações e de uma economia essencialmente petroleira como tem sido há muito tempo.

Após esses 12 anos de intenso crescimento econômico a Venezuela vive hoje um problema de gargalo para o crescimento. Por falta de planejamento e por um período longo de seca (a maior fonte energética do país hoje são as hidroelétricas) o país enfrenta hoje uma crise energética que tem demandado do governo uma forte política de incentivo a economia de energia nas residências e de imposição de cootas para muitas empresas. Porém, disso também se tira uma lição: parece-me esse um momento importante para a população venezuelana repensar o seu padrão de consumo baseado no padrão estadounidense há décadas.

O processo revolucionário e a necessidade de luta constante contra os velhos donos do poder parecem ser lições diárias para o povo venezuelano, que demonstra-se diariamente disposto a aprendê-las.


*segundo PNUD, quanto mais próximo de 1 mais desenvolvido é o país.
**quanto mais próximo de 1 mais desigual é o país.

Bandeira da viagem

Inspirados pelo símbolo de comemoração dos 200 anos de independência venezuelana e de acordo com as nossas convicções políticas, fizemos uma espécie de logo ou bandera da nossa viagem. Muito mal feito no paint, mas com muita boa vontade.

Alias, se alguem souber usar o corel ou algum programa de edição de imagem e quiser fazê-lo bonito, estaríamos muito agradecidos...