"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

sábado, 11 de setembro de 2010

O dia em que o azul se separou do amarelo

Ontem você me deu a triste notícia de que voltaria já ao Brasil.

Passamos por Cuba, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia e foram exatamente sete meses e meio juntos. Às vezes acompanhados de outros, mas todos passageiros. Éramos só nós mesmo.

Havia momentos em que éramos uma só pessoa, momentos em que éramos dois e momentos em que parecíamos muitos. Me lembro que nossa primeira discussão aconteceu quando achei que éramos uma só pessoa, já a segunda porque achei que éramos duas.

Eram literalmente 24 horas juntos. Dividíamos o sabonete, a cama, a roupa, a comida, o tempo de internet. Quase tudo. Coisa que raros matrimônios suportariam.

Saímos do Brasil com um claro objetivo de compreender os processos políticos de cada país e também o que passa em totalidade na América Latina. Para isso necessitávamos conhecer a perspectiva dos povos sobre esse processo através dos movimentos sociais e das organizações populares. Conhecemos muita coisas e obtivemos muitas respostas. Mas acabaram ficando mais inquietações e dúvidas, das quais muitas, através de nossas reflexões, se tornaram grandes responsabilidades.

Encontramos coisas também que a princípio não buscávamos: descobrimos mais a fundo o que é a saudade, a amizade, o amor, etc.

Quanto mais o tempo passava, mais a vontade de voltar ao Brasil (para matar a saudade que sentíamos, pelas responsabilidades que deixamos para trás, ou para lutar) aumentava, mesmo que em proporções diferentes.

Acho que sempre ficarei com a dúvida de que algo poderia ter sido diferente. Talvez se você falasse mais. Talvez se eu tivesse perguntado mais.

Enfim essa nossa busca pela América Latina acaba aqui, dia 5 de setembro de 2010, em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia. Isso porque não faz sentido pensar que eu possa fazer a nossa viagem sozinho. Viajar agora não possui mais o mesmo significado que antes, pois não terá mais nossas reflexões e conclusões.

Muita coisa se passou ao longo desses sete meses e meio. Eu poderia ficar horas escrevendo sobre cada passo que demos, mas deixarei isso para todas as conversas que ainda teremos ao longo de nossas vidas. Não podemos ser um agora que estamos separados, porém poderemos sê-lo sempre que nos encontrarmos.

Aí é que vem a boa noticia: sempre que o azul se encontrar com o amarelo, eles voltarão a ser o verde.



Nos vemos no Brasil!

Beijos Miguxo!

Theo.

Santa Cruz, 5 de setembro de 2010.

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