"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os meios de comunicação alternativos

No dia 11/03 fomos conhecer a Rádio Arsenal 98.1 FM, uma rádio comunitária no bairro 23 de Enero. Os meios de comunicação comunitários têm exercido um papel importante no proceso revolucionário, contrapondo-se ao monopólio da grande mídia sobre as informações, valorizando a cultural local e discutindo política interna e externa a todo o tempo.

As rádios e TVs comunitárias tiveram um papel fundamental no contra-golpe à tentativa de golde em abril de 2002. Apensar de muitas terem sido fechadas e boicotadas nos dias 11 e 12 de abril, muitas também conseguiram funcionar. Enquanto a grande mídia (principalmente a RCTV, a qual virou TV por assinatura, após a recusa do governo a renovar sua concessão de canal) mentia nos noticiarios dizendo que o Chavez havia renuciado e que a ordem já estava sendo reestabelecida, as rádios e TVs comunitárias informavam à população o que se passava de fato.

Durante a nossa visita participamos do programa "Comuna Bario Adentro" em que o tema daquele dia era luta de classes. Lá falamos um pouco sobre a conjuntura política do Brasil, sobre a nossa viagem, sobre o que já tinhamos conhecido na Venezuela e sobre o MST (aqui todos adimiram muito o movimento e perguntam sempre sobre ele).



No final do dia fomos ao estádio do Caracas Futebol Clube, mais uma vez, para assistir ao jogo Cruzeiro x Deportivo Itália pela Libertadores, só que desta vez assitimos pelo lado de fora, já que tem uma parte que se pode ver o campo bem de perto e estava bem vazio. No meio do jogo o sistema de irrigação do campo ligou. Pelo menos isso deu alguma graca ao jogo...



No dia seguinte, fomos a uma aula dos estudantes de Trabalho Social da Universidade Central. Essa disciplina é uma espécie de disciplina de extensão e a idéia é formar futuros formadores nas comunidades. O trabalho é com lideranças das comunidades e pretende realizar atividades políticas diversas. O projeto parece muito interessante, apesar de ter somente o período de um semestre (4 meses). O grupo de estudantes desse semestre irá trabalhar especificamente em La Vega, uma favela de Caracas aonde as estudantes, que se tornaram nossas amigas, Jessica e Mariana, já realizavam trabalhos.

Apesar de estarmos muito mais longe do que os venezuelanos na questão do protagonismo popular, essa idéia daria um trabalhoso, mas bom projeto de exteno no Brasil.

No dia 15/03, convidados por Kevin, presidente do Centro Estudantil de Trabalho Social e que também se tornou um "pana", participamos da apresentação de um trabalho seu que falava sobre o conceito de movimento social e sobre os movimentos sociais na América Latina. Nosso papel era tentar falar, dentro do nosso ainda limitado espanhol, sobre os movimentos sociais no Brasil e tentar fazer um paralelo com os movimentos em Caracas. Até que nos saimos bem na nossa tarefa, mas quando aberto para perguntas, os estudantes se demonstraram mais interessados em nossa viagem do que na nossa simples exposição e nos movimentos sociais brasileiros.

Essa participação foi importante para entendermos algumas semelhanças e diferencas entre a formação social e os movimentos sociais dos dois paises, tanto pela reflexão que fomos obrigados a fazer, quanto pela contribuição da professora da disciplina.

Dois dias depois fomos a um grupo de estudos composto por artistas que est
ão fazendo estudos marxistas e relacionando-o à arte. Fomos convidados pela Marília, do coletivo "Esquerda Marxista" e atriz formada na Unicamp, que conhecemos no refeitório da UBV. Em pouco tempo de conversa descobrimos que conhecíamos muitas pessoas em comum, já que ela havia estudado na Unicamp.

Daniel e eu brincamos sempre que n
ão é que o mundo seja pequeno, mas na verdade a classe média é que é, e a esquerda é ainda mais.

No dia 18 fomos a uma palestra na UBV sobre a guerrilha venezuelana nas décadas de 60 e 70. Lá estava o Comandante Carlos Bitencourt, que hoje pertence ao coletivo Los Comuneros. Ao longo de sua interessante exposi
ção sobre a guerrilha e sobre a conjuntura política da Venezuela, prendeu-me a atenção particularmente em um momento em que relatou o seu contato com uma camponesa no seu período de guerrilheiro.

Falando sobre o poder de manipula
ção da mídia e a distorção de informações, ele relatou que uma vez ao chegar a um povoado uma senhora camponesa, muito assustada, disse-lhe: "por favor senhor, estupre a mim, mas não a minha neta". Logo ele colocou a sua mão sobre o ombro da senhora e lhe respondeu que só se relacionava sexualmente com alguem quando havia concentimento mútuo.

Esse era o tipo de informação que a senhora camponesa tinha, mesmo com pouco acesso aos meios, tamanho o poder da grande mídia. Isso era o que a mídia divulgava a respeito dos guerrilheiros (e divulga ainda hoje sobre as FARC), assim como divulgou-se ao londo do século XX que os comunistas comiam criancinhas. Nunca disseram que eles estavam em uma luta armada pelo socialismo e o que era isso, mas sim que eles chegavam aos povoados, estupravam e assassinavam as pessoas e saqueavam o local.

Esse depoimento me fez pensar, mesmo já sabendo de toda manipula
ção dos meios de comunicação e por isso tentando ler e ver meios alternativos de comunicação, o quanto ainda somos enganados pela grande mídia que finge defender a democracia, mas que na verdade defende, como único fim, a propriedade privada.

No final do dia fomos mais uma vez a Radio Arsenal, só que dessa vez participamos pouco e ficamos ouvindo o programa de dentro do estudio, que teve como tema a Comuna de Paris e a sua
contribuição histórica para a construção dos Conselhos Comunais na Venezuela.

2 comentários:

  1. querido
    adorei essa postagem... eu não visitei nenhuma rádio ai, que pena! mas eu ficava fuçando na tv e era mto legal de comparar os canais do governo e/ou os comunitários, com os canais tradicionais, tipo globo, que ainda estão funcionado normalmente, super de direita e conservadores, ao lado de outros de esquerda. isso foi uma das coisas mais legais que eu vi... um canal dizia uma coisa e o outro o contrário.. poxa, liberdade de comunicação de verdade é poder ter acesso há varios pontos de vista diferentes... só quando a gente vê isso é que temos noção como somos obrigados a receber sempre o mesmo tipo de discurso nas nossas tvs, ficando bem óbvio também como isso tem o objetivo de dominação da informação, perfeito pra construção e manutenção da ideologia capitalista.
    didi

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  2. Aqui no Brasil não é diferente. Quando era criança, na zona de colonização alemã do interior do RS, os políticos percorriam as roças, informando aos pequenos agricultores que Lula e Brizola iriam roubar a terrinha deles caso ganhassem a eleição.

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