"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

terça-feira, 27 de julho de 2010

Adeus Caracas, olá Barinas

Depois de quase um mês além do previsto em Caracas, nos despedimos e partimos para Barinas.

Conseguimos uma carona com uma excursão de estudantes da área de saúde, que iria para Barinas na Universidade Ezequiel Zamora. Chegando a Barinas ligamos para o nosso contato por lá, o professor Fredi Castillo. Da Universidade fomos ao terminal rodoviário, e de lá para a casa dos pais de Fredi.

Logo ao chegarmos, ficamos por horas conversando, perguntando, e tentando explicar o objetivo da nossa viagem. Castire, um garoto que vive na casa da “abuela” Teodolinda e do “abuelo” Marcelino, em meio a conversa tentou definir o objetivo da nossa viagem como: "em busca da verdade". Eu achei interessante, mas corrigiria para "em busca de outra verdade" ou "em busca da verdade do povo", algo assim.



La masquei pela primeira vez tabaco (e fiquei meio bêbado), fizemos bons amigos e ótimos contatos que nos ajudariam com o nosso objetivo, além de sermos tratados como membros da família. Dentre os amigos, conhecemos o professor Nelson Castillo, irmão de Fredi.

Nesse momento estávamos muito mal de grana. Isso porque, na inocência, emprestamos BsF$390,00 a um motorista da UBV que ficou muito amigo nosso, e até agora não nos pagou. Porém, nossa nova família não nos deixou gastar um real enquanto estivemos hospedados lá.

Já no nosso segundo dia na casa, saímos com Omar, pai de Castire, e que passa grande parte do seu tempo nessa casa, lendo jornal, mascando tabaco e debatendo politica, para conhecer um pouco de Barinas. Fomos até a Assembleia Municipal tentar pegar algum material e fazer alguns contatos, mas sem muito sucesso. Logo em seguida fomos conhecer a sede do poder estadual. Nos deixaram entrar, mesmo de bermuda e chinelo. Lá estava ocorrendo uma cerimonia em que o governador do estado de Barinas entregava créditos para as cooperativas de pequenos agricultores do estado. Depois de suportar muito calor, já que o ar condicionado estava quebrado, conseguimos assistir a cerimonia até o final. Omar então nos chamou para que nos aproximássemos do palco e enquanto o governador saia do auditório, ele nos apresentou: "governador, aqui estão dois embaixadores brasileiros que vieram conhecer o processo revolucionário. Foi então que com um "bien venidos" e um "adelante", fomos apresentados ao governador Adan Chávez Frias, irmão do presidente Hugo Chávez Rafael Frias.

Para muito além do fetiche de que pode ter o fato de apertar a mão de um governador, ainda mais sendo irmão do presidente Chávez, achei esse fato muito, pois no Brasil qual seria a chance de uma pessoa, quanto mais um estrangeiro desconhecido, chegar perto de um governador e apertar sua mão, se não for em período de campanha ou se eu fosse uma criança de colo? Omar nos disse que isso é comum por aqui e demostra o quanto os governantes revolucionários estão dispostos a estar perto do povo.

Ao sair de lá, graças a simpatia de Omar, conhecemos na rua uma garota da Missão Cultura que nos convidou a participar de uma intervenção cultural em semáforos para incentivar a leitura. Enquanto o semáforo estava vermelho, liamos em frente aos carros. Foi divertido.

Depois de um dia bem agitado, conhecemos alguns netos da família, com quem jogamos baralho. Ensinamos truco e aprendemos um jogo chamado caída. O Daniel pretende difundi-lo no Brasil.

No dia seguinte fomos levados por Pavón, outro senhor que está todo o tempo na casa, em um estádio de beisebol, mas não para ver algum jogo, se não para conhecer o “Peloteiro”, responsável por atividades esportivas na cidade e quem é amigo de infância do presidente Chávez. Por alguns minutos nos contou histórias de sua juventude em que jogava beisebol com Chávez. Disse que ele era o melhor do time.

Pela noite fizemos a correria do dinheiro que o motorista da UBV nos devia porque ele começava a nos fazer falta. Mas sem sucesso. Cada vez mais parece que não veremos mais esse dinheiro.

Fomos convidados por Nelson a passar o fim de semana em Santa Catalina, um povoado no interior de Barinas e fomos.

Fomos até a sua casa em Pedraza conhecer a sua família,tomar umas cervejas e dormir para partirmos cedo a Santa Catalina.





Em Santa Catalina fomos à uma escola rural, onde os alunos de Nelson na UBV iriam apresentar os seus projetos de extensão de conclusão de curso. Ao contrário do que estamos acostumados, Nelson fez questão de que na banca não estivessem somente professores, senão membros da comunidade e que o trabalho fosse apresentado na própria comunidade e não na universidade entre quatro paredes.




Depois da apresentação fomos a um churrasco regado a rum, música e dança.


Depois de alguns dias de lazer, indo ao rio e jogando futebol com os filhos de Nelson, fomos com ele ao Instituto Agroecológico Latino Americano (IALA) Paulo Freire, aonde ele dá aulas. O IALA é uma escola de ensino superior em agroecologia da Via Campesina, onde estão presentes estudantes de diversos países do continente, como Venezuela, Brasil, Paraguai, Colômbia, Nicarágua, Equador, etc. e de diversos movimentos sociais.


Ficamos mais alguns dias na casa de Nelson e dentre as coisas que fizemos, escutamos músicas, principalmente de Ali Primeira, um cantor que morreu na década de 1970 e que fazia músicas de protestos, morreu no esquecimento, mas hoje é a grande referência da música venezuelana por considerarem que fala de muita coisa que viveram e que vivem hoje com a revolução bolivariana. Dentre as músicas que escutamos, ouvi um trecho de uma que me chamou muito a atenção e que dizia: "a inocência não mata as pessoas, mas tão pouco as salva". Aconselho que procurem músicas dele.

No dia 2 de maio fomos até uma escola de Pedraza, onde estava ocorrendo eleições internas no Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) para os candidatos a deputados. Para essa eleição o PSUV determinou que não se podia fazer campanha com publicidade, mas sim através de reuniões e de conversar. Isso para que os candidatos com mais dinheiro não fossem favorecidos em relação aos que não têm. A única publicidade que podiam fazer era passar de porta em porta para falar e suas propostas e intenções. O PSUV conta hoje com cerca de 7 milhões de filiados, cerca de 25% da população venezuelana.

No dia 3 voltamos a Barinas e nos despedimos na nossa nova família para seguir rumo a temida Colômbia.

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