"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

domingo, 25 de julho de 2010

O Holocausto Colombiano

Comparável ao holocausto nazista


La Macarena está a 200 quilômetros ao sul de Bogotá, uma das zonas mais quentes do conflito colombiano. Os cadáveres “NN” têm sido enterrados sem identificação pelo exército onde suas forças de elite estão presentes. Depositados atrás do cemitério local com 2000 cadáveres enterrados sem nome.

Trata-se do maior cemitério de vitimas de um conflito que se tenha notícia no continente. Pode-se compará-lo ao Holocausto Nazista ou a barbárie do Pol Pot no Camboja para encontrar algum exemplo a sua dimensão.

O jurista Jairo Ramírez é o secretário do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia e acompanhou uma delegação de parlamentares ingleses ao lugar quando se começou a descobrir a magnitude da foça de La Macarena. “O que vimos foi horrível”, declarou publicamente. “Infinidades de corpos e na superfície centenas de placas de madeira de cor branca com uma inscrição NN e com datas de 2005 até hoje”.


Ramírez adiciona: “o comandante do exército dos disse que eram guerrilheiros dados como mortos em combate, mas os moradores da região nos falaram de muitos líderes sociais, camponeses, defensores comunitários que desapareceram sem deixar rastros”.


Preparação para a audiência pública

Com a audiência pública com data para o dia 22 de julho se pretende torar público o grande conflito social, político e armado que persiste na região e que as comunidades do Bajo Ariari têm sido testemunha dos mais horríveis crimes das últimas décadas. Desde a aplicação do chamado Plan Colombia há 9 anos, tem-se evidenciado uma massiva, sistemática e persistente perseguição contra as comunidades e seus líderes sociais, comunitários e defensores dos direitos humanos. O Coletivo denuncia “execuções extrajudiciais, contínuos atropelos por parte dos membros da força pública, a reorganização das estruturas paramilitares e o abandono estatal, expressado pelo baixos investimentos sociais às comunidades, como se pode ver nas distintas Missões Humanitárias e de acompanhamento na região de Bajo Ariari”.

A audiência pública busca tornar público a nível nacional e internacional a grave situação humanitária em que vivem os camponeses e camponesas a partir da execução de diferentes planos de recuperação de território por parte do governo, tais como o Plan Colombia, Plan Patriota, Plan Victoria e atualmente o Plan de Consolidación Integral de la Macarena –PCIM- todos no marco da chamada “política de seguridad democrática”.

Por sua vez, busca denunciar a responsabilidade do Estado frente aos corpos que foram encontrados na foça comum de La Macarena, enterrados como guerrilheiros dados como mortos m combate e aonde possivelmente se encontre vitimas de desaparição forçada e de execuções extrajudiciais. Tambem busca adotar medidas de proteção aos defensores dos direitos humanos nessa zona.

Para isso vão solicitar às Nações Unidas a continuação de todo o processo de denúncia que as organizações da região estão realizando.

A audiência pública convidará os camponeses e as camponesas, as vitimas da região, as instituições civis do Estado, organizações sociais colombianas, Nações Unidas, União Européia, agencias de cooperação, embaixadas e plataformas colombianas.

A proposta é desenvolver a audiência no formato de audiências que tem feito a senadora Gloria Inés Ramírez, impulsionada desde a Comissão de Paz do Senado da República e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a qual teria várias vantagens: se trasitirá em canal de TV do congresso, a audiência estará acompanhada pelo sistema das Nações Unidas, gerando uma cadeia de proteção a todos os assistentes da mesma. Se dará continuidade a todas as denuncias apresentadas na audiência, desde a Comissão de Paz do Senado através da responsabilidade da Senadora Gloria Inés Ramírez.


Mais de mil foças em todo o país

O horror de La Macarena tem posto em existência mais de mil foças comuns com cadáveres sem identificação na Colômbia. Até finais do ano passado, havia se encontrado cerca de 2500 cadáveres, dos quais foi possível identificar cerca de 600 e entregar os corpos aos familiares.

A localização desses cemitérios clandestinos tem sido possível graças as declarações em versão livre de mandatários médios e afastados do paramilitarismo e o “sucesso” da controvertida Lei de Justiça e Paz que garante uma pena simbólica em troca da confissão de crimes.

Entre essas declarações, a de John Jairo Rentería, conhecido como Betún, quem revelou ante o fiscal e os familiares das vítimas que eles e outros enterraram “pelo menos 800 pessoas” na finca Villa Sandra, em Puerto Asís, região do Putumayo. "Havia que desmembrar a pessoas. Todos tinham que aprender e isso foi feito muitas vezes gente viva”.


"O Governo não quer investigar", diz Alfredo Molano, Sociólogo e escritor



Alfredo Molano, um dos colunistas mais influentes da Colômbia, percorria o país para denunciar a violência, o que o obrigou a fugir a um exílio para escapar da ameaças militares e paramilitares.

- Qual é a situação das foças na Colômbia?

A própria Procuradoria Geral da Nação fala de 25.000 “desaparecidos”, que em algum lugar tem que estar. Existem cemitérios clandestinos enormes na Colômbia. Existe gente apagada. Também é possível que se tenha desaparecido muitos restos como nos fornos crematórios dos nazistas.

-Essas foças têm os chamados “falsos positivos”?

Sim. Tudo isso pode estar relacionado com os “falsos positivos” (colombianos civis assassinados que se apresentava como “mortos em combate”). Boa parte deles encontram-se em foças comuns.

- Qual pode ser a magnitude desses resultados das foças?

Terrível. Nem nos anos cinquenta houve na Colômbia tanta brutalidade como as demonstradas pelas ações dos paramilitares, mas o governo não tem vontade de investigá-las profundamente e quer abandoná-las.


As absurdas explicações oficiais

Com toda tranquilidade o Ministério da Defesa disse que nas foças comuns estão os restos de vítimas da guerrilha da zona de Caguán. Explicação desmentida com facilidade porque as tumbas, como já se sabe, têm letreiros de madeira onde aparecem as datas desde 2004, quando já não havia mais presença guerrilheira, mas já estava ocupada pela Fuerza Omega, que diante do Plan Patriota e a luta contrainsurgente. Ainda que o comandante da base militar em La Macarena disse, quando foi perguntado pelos britânicos, que “são guerrilheiros dados como mortos em combate com o exército”, versão difícil de se acreditar, porque “as pessoas da região nos disseram de múltiplos líderes sociais, camponeses e defensores comunitários que desapareceram sem deixar rastros”, disse Jairo Ramírez.

Segundo a declaração dos sepultamentos de La Macarena, “os cadáveres são trazidos em helicópteros do exército deixados no cemitérios; a única coisa que podíamos fazer era sepultá-los em foças como N.N.”.

Perdeu-se toda a capacidade de aterrorizar a população com esse quadro porque se creia que na Colômbia havia se chegado ao limite do horror com a confissão dos paramilitares nas audiências de Justiça e Paz, onde reconhecem a existência de foças comuns com centenas de cadáveres e suas vítimas. “Essa já é a gota d’água. É uma espécie de recorde do livro dos recordes”, disse o porta-voz de uma ONG humanitária colombiana.

A existência da enorme foça comum em La Macarena, dos quais não se tem ocupado os meios de comunicação, dedicados a cultivar a expectativa e o jogo de adivinhação sobre o que iria passar com o referendo de reeleição na Venezuela, assim como a estúpida campanha contra Chávez e a Revolução Bolivariana, volta-se às raízes do informe Human Rights Watch, divulgado na semana passada e que alfinetou o governo colombiano como sempre. Também pela visita de uma delegação parlamentaria do Estado espanhol, que esteve nos últimos dias na Colômbia e reconheceu a gravidade da situação de direitos humanos.

Segundo o que tem dito as fontes judiciais e os organismos de controle, depois de março se iniciará a investigação sobre as foças comuns de La Macarena. Ainda que na verdade todo o território colombiano esteja cheio de foças comuns da barbárie de paramilitares, dedicados a desaparecer e assassinar camponeses e dirigentes populares acusados de colaborar com a guerrilha. É parte do holocausto colombiano, ainda em curso e sem final, perpetuado por uma força irregular promovida pelo Estado e patrocinada por dirigentes políticos e empresários “parapolíticos”, que ainda defendem a ação contra esses grupos, porque “foi a reação aos crimes da guerrilha”, segundo a visão oficial nos tempos da “seguridade democrática”. Nas palavras do coronel Plazas Veja ante o massacre do Palácio da Justiça: “Estão defendendo a democracia, mestre!”.


*Recebi essa reportagem por e-mail e as traduzi, mas desconheço o autor e aonde foi publicada.

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