"A cabeça pensa onde os pés pisam" Paulo Freire

quarta-feira, 3 de março de 2010

A terceira semana em Cuba

No último dia da brigada, pegamos uma carona no ônibus que levaria as delegações dos países para Havana. Lá fomos encontrar com o prof. Reynaldo Feijó, um professor de inglês, membro do Partido Comunista Cubano e que trabalhava no ICAP, uma vez que o Rafael Moya tinha nos passado seu contato e disse que seria uma boa pessoa para se conversar.

Após ligarmos para ele e combinado um local, nos encontramos e fomos até a escola de idiomas aonde ele dá aulas.

Sem muitas perguntas prontas, mas com muitas dúvidas e inquietações, começamos uma conversa que durou a tarde toda. Ficamos mais ou menos 4 horas falando sobre Cuba, Brasil, América Latina, Cultura, Revolução Cubana, etc.

Feijó já foi algumas vezes ao Brasil e conhecia muito daqui e em um momento em que falavamos de uma possivel revolução no Brasil ele nos disse que para que isso fosse possível, seria necessário DESnovelizar (as novelas brasileiras são muito assistidas em Cuba), DEScarnavalizar e DESfutebolizar o Brasil. Tarefa difícil.

Bom, a conversa foi muito boa e longa. credito que não seja possível escrever todas as dicussões que tivemos ao longo dessas 4 horas. Mas com ceteza as idéias debatidas estarão dissolvidas ao longo das reflexões no blog.

Depois de quase duas semanas participando da brigada, resolvemos ficar em Cuba por mais algum tempo, desde que a nossa restrição financeira (de U$100 por mês no máximo) permitisse (a idéia era ficar até 5 de março para participar de um encontro internacional de economia em Havana).

Após uma palestra sobre o ICAP, ainda na brigada, o Franco, que nesse momento pretendia abandonar a sua rotina para seguir viagem conosco, conversou com a presidente do instituto e ela gentilmente nos convidou a ficar por mais uma semana no acampamento.



Decidimos então permanecer no acampamento e aprofundar o nosso conhecimento sobre as organizações que haviamos conhecido durante a brigada em Caimito mesmo, e se necessário, ir a Havana, que ficava a apenas 40 minutos de ônibus. Durante essa semana a mais no acampamento, conhecemos melhor a ANAP(Associación Nacional de Agricultores Pequeños), a FMC (Feredación de Mujeres Cubanas) e a UJC(Unión de Jovenes Comunistas).

Na ANAP falamos com a presidente da associação em Caimito e ela nos esclareceu sobre o funcionamento da associação e sobre a divisão em dois tipos de cooperativas agrícolas: Cooperativa de Produção Agrícola (CPA), em que há uma maior participação do Estado, e a Cooperativa de Crédito e Seviço Fortacelida (CCSF), em que a produção é mais autônoma.

Foi nessas conversas, na ANAP e nas cooperativas, que começamos a conhecer um pouco da história e da atualidade do setor rural. O governo cubano tem incentivado recentemente a volta da população urbana para o campo a fim de aumentar a produção de alimentos. Descobrimos também que houve um aumento significativo da produção de leite, e que as crianças possuem preferência no consumo dessa produção, independente da renda familiar.

Na Federação de Mulheres Cubanas fomos recepcionados por Virgen, a presidente. Muito simpática, ela nos explicou um pouco do papel da associação para a revolução e para a luta das mulheres pela igualdade de direitos.

Fundada por Vilma Castro no início da revolução, a federação conta hoje com cerca de 4 milhões de mulheres acima de 14 anos (o total da população cubana é de 11 milhões) filiadas. O seu papel principal é lutar pelos direitos das mulheres, que hoje está muito focado na representatividade na assembléia nacional e nos cargos políticos, e na formação política sobre as questões de gênero, tanto para mulheres, como para homens.

Fomos também em Caimito a uma reunião da Federação em que se pretendia rearticular o grupo do quarteirão (todo quarteirão é um núcleo organizado), onde se discutiu quem seriam as responsáveis pelo núcleo e sobre os cursos que estão sendo oferecidos para as mulheres. Acabada a reunião, todas foram a casa de uma mulher que não havia comparecido a reunião para saber o que aconteceu e se ela queria participar do núcleo.



Na UJC conversamos com a presidente da união, que também nos explicou o seu funcionamento, o seu papel fundamental para o estímulo de debates políticos entre os jovens e para a participação dos jovens na construção da Revolução.

3 comentários:

  1. Boa noite dupla,

    Teve um dia que eu estava conversando com um amigo sobre comunismo e revolução (ele havia feito parte da juventude comunista brasileira, pouco antes do golpe militar). Expliquei pra ele meus receios envolvendo o uso de armas (de fogo ou não) para tomar o poder. Dito isso ele me contou que havia dois perfis de revolucionários, na época. Uns acreditavam na revolução através das armas, outros (ele inclusive) acreditavam que a revolução deveria se dar no plano intelectual, através da politização da população.

    Quando vi essa última inscrição de vocês no blog, que falava sobre DESnovelização, DEScarnavalização e DESfutebolização fui levado a pensar que a pessoa que disse isso, e possivelmente muitos outros cubanos, também acreditam nessa forma de revolução. Se tiverem vontade, escrevam sobre a visão de vocês do assunto e sobre o que tenham percebido do povo cubano.

    Abraços fratenos,
    Gabs

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  2. Parabens pelo blog, muito informativpo e cativante.

    Abraços

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